não sei qual é o dia certo para morrer –
procuro – como garimpeiro de mim mesmo. peneiro insistentemente o que ainda consigo
pensar – resisto – vómito – há um rio na vida que não entendo. leva-me para
onde não quero e sou invisível aos olhos dos outros – as mãos tentam segurar o
corpo. os pés afundam-se no lodo. e a
cabeça oscila entre margens onde os abutres esperam. escondem-se por detrás das
silvas com que me ferem todos os dias – negros e enormes. afiam os bicos rindo
do meu destino – troçam – eles e eu sabemos como acaba a história – na rede que
me peneira. a sujidade disputa espaço nos quadrados minúsculos por onde escorre
o que me resta – na água os peixes cantam canções de embalar e as harpas não
deixam de anunciar a chegada do náufrago que não consegue morrer em paz na
terra que o viu crescer – há dias em que a morte parece a única forma de
existir – encontrar o destino dentro do vazio é cada vez mais difícil e a
pepita gigante do sossego. presa numa parede de quadros reduzidos a recordações.
e a voz da saudade murmura: o interruptor está por baixo da moldura da tua
árvore genealógica – descansa em paz
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
13/04/2012
descansa em paz
michelangelo merisi da caravaggio
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O que dizer? vejo-me nas tuas letras, no sentido de cada palavra." Há um rio na vida que não entendo" que me leva para onde? há dias em que a morte é a única solução para viver e eu morro e nasço a cada dia. sabe, Sampaio Rego poeta das interioridades tão densas. obrigada por escrever assim. abraços poeta.
ResponderEliminarmárcia. logo hoje que é um dia especial - é este rio que não entendo. sobe. sobe e sobe. e as palavras a fazem a face sorrir e as mãos com vontade de escrever: obrigado
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