e
eu aqui penso. aqui.
onde o certo e o incerto nascem. onde a dúvida e a certeza gozam dos mesmos
privilégios e deveres: o corpo nunca satisfeito – os antigos acreditavam que tudo
vinha do coração. eu. sempre racional a esta hora da noite. sei que o vómito
vem do próprio cérebro – por isso esta dor de cabeça que me come o corpo por
inteiro – não compreendo por que não sou capaz de ignorar esta dor que não
deveria ser dor. ser hábito – talvez defeito de ser humano – mas nem todos os
seres humanos são humanos – os humanos que conheço têm uma veia que vai do
coração à cabeça. a dor. mergulhada em sangue. desagua no cérebro em forma de
delta. ramifica-se em canais distorcidos pela força da corrente – nos seus extremos
os detritos lutam por um lugar seguro na razão – empírico – o coração com o
passar do tempo já não filtra todas as impurezas. cansado? não. apenas defeituoso.
sempre foi assim – o coração dói. não há médico que o cure. nem viagem que o
distraia. dói porque dói. dói porque bate. dói porque é nele que existo. vivo
em dor e em dor idílica escrevo – romântico? estou certo que sim. é no coração
que deito os olhos – interrogo-me se conheço a raça humana. e a resposta é que
conheço alguns humanos. gosto deles porque a dor lhes dói onde me dói a minha dor – belo – por último coloco a
interrogação em mim e pergunto-me: conheces-te? não. não conheço. porque não
conheço todos os humanos. principalmente os humanos-pedra – se me conhecesse.
se me conhecesse mesmo bem. seria outro. outro humano. diferente deste que se
magoa com dores que não são de magoar. dor-pedra – as pedras não têm dor
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
04/05/2012
as pedras não têm dor
paul cadden
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