.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

06/08/2012

ainda sou




jean-michel folon



5 de agosto. tu. sentado nas traseiras da casa. na aldeia. rodeado de gente em dor – mais um aniversário passou sem vela acesa – nos ouvidos guardo o som do último beijo de parabéns que te dei – com os olhos desarrumados pelo tempo. tentei encontrar em ti um pedaço quente onde deixar o calor dos meus lábios. estavas gelado. perdido na escuridão do corpo e já não conhecias nada do que era teu – eu era teu. sou ainda – estávamos os dois dispersos. tu pela doença e eu a fingir que tudo era apenas um resfriado – as palavras trémulas já não remendavam a mentira com que cantámos esse feliz aniversário. com muitos anos de vida e muitos amigos – todos sabíamos que seria o último ano. menos tu. tinhas sido pilhado do saber – parabéns. pai. cantarei em silêncio sempre o teu dia até que também me pilhem as recordações que guardo de ti – às vezes imagino que chamas por mim – e eu vou. sem hesitar…



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