a chuva e o frio entraram-me fundo no
corpo – em frente. a janela. entregue a uma película de água escorregadia. deixa
passar suavemente a noite feia. batida pelo vento – chove feio – não há forma
de escapar a uma noite assim com uma chuva assim. ficamos então também feios. tornamo-nos
inverno. as mãos gelam e o coração começa a bater em retirada para um agasalho
tecido no silêncio – e todos aqueles que partiram regressam – falta o pingo no nariz. as meias de lã. e
aquele esfregar das mãos. uma e outra enrodilham-se. cruzam-se. esfregam-se.
fazem calor. suportam-se e partem. cada uma para seu lado – retomo a escrita.
acelero as palavras. e a fábula da cigarra e da formiga muda de forma – sempre
gostei mais da cigarra. arteira. manhosa. astuta. esperta. atiçada. enfim. com
todos os predicados para um dia contar as suas próprias memórias – então. para
afastar a maldição das noites de verão feias. escrevi este desabafo noturno a
que dei o nome de “chuva” – a minha interrogação é se o título não deveria ser “chove
feio” – também eu me sentia feio e afundado na chuva
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