a. j. s. azevedo
não posso mentir. estou proibido pelo
passado – lido muito mal com injustiças. mas também não me parece que seja
diferente da maioria das pessoas. injustiça é injustiça e não tem tamanho para homem
de bem – se eu tivesse uma macieira no meu quintal era fácil. dois coices
fortes. e as maçãs podres no chão pela força da razão – ali ficariam a entrar
em decomposição. na lama. ao inferno do tempo. à boca dos infiéis da terra – o
pecado nunca apodrece. tem que ser comido – da minha janela. retirado da
arrelia. peço aos santos e demónios piedade – olhos no céu. acrescento dedos ao
rosário em contas que nunca dão certo na prova dos nove – um terço pelas vítimas
do mau olhado. amém - um terço pelos desafortunados.
deficientes e desbocados. amém – um terço pelas vítimas da ejaculação precoce.
amém – um terço pelas doenças da próstata. amém – um terço pelas mulheres da má vida. finalmente
um terço por mim. que não gosto de me sentir assim. amém – mão no bolso. boca
em forma de assobio e o coração a dar o tic tac numa angústia de quem espera
por um novo dia – o sol vai nascer novamente – acreditam no mau olhado?
- volto já -
[estou a pendurar no corpo uns
amuletos contra o mau olhado. uma rasa de sal pelos cantos da casa e a partir
de hoje as cuecas serão sempre vestidas do avesso]
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