jean-michel folon
a minha juventude foi muito agitada. desajeitada e
rebelde – gosto de culpar o 25 de abril
por todos os males de que padeço. mas não é verdade – o que seria das minhas
palavras sem abril? não trocava abril por nada. crescer com a revolução é um
daqueles momentos únicos que a vida não repete – sem abril estaria vazio.
talvez até vazio de erro – faço parte do
erro. agarrei a liberdade sem defesas e acabei por sucumbir ao seu encanto –
por ali fiquei a trovar. sem métrica. sem rima e a um compasso que nunca soube
acompanhar – agora que envelheci escrevo prosa para sobreviver – estou triste.
escrevo – quero desabafar. escrevo –
quero respirar. escrevo – quero dar uma sova. escrevo – quero dizer amo.
escrevo – quero odiar. escrevo – escrevo para tudo e para mim – escrevo porque
quero continuar a envelhecer com as palavras que ainda não escrevi – escrevo
para não morrer no meio de um amor não correspondido: a vida – a vida nunca me
amou. talvez por não ser poeta. talvez por nunca ter dito que gosto muito de
todos aqueles que fazem parte da minha vida – amo-vos. amo-vos. amo-vos. a todos – escrevo para falar – bem hajam
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