leonid pasternak
serei impuro apenas porque desejo sentir o
abraço das palavras? serei impuro por querer experienciar o feminismo das
palavras? serei impuro por abandonar de vez o miserável receio de ser
sentimental com as palavras? não sei – nos dias que escrevo há dentro de mim
uma histeria desenfreada. atabalhoada
e histérica – corre-me pelas mãos o desejo de afagar em pecado todo o
vocabulário – a sirene invade o silêncio.
ligo os holofotes e ilumino-as - as palavras – matreiramente sorrio. procuro dizer-lhes que estou com uma ereção
factual e substancial – estou louco.
perdidamente louco e miseravelmente desvairado: preciso urgentemente de as usar. de as trazer para o meu mundo de afectos. preciso de as trazer ao mundo dos leitores – william shakespeare dizia
que “enquanto houver um louco. um
poeta e um amante haverá sonho. amor
e fantasia – e enquanto houver sonho.
amor e fantasia. haverá esperança” –
a esperança também é feita de palavras –quando escrevo sinto-me o melhor amante
do mundo. sinto-me eu e ninguém é
melhor do que um eu perdidamente enamorado – as mãos procuram o papel enquanto
que os vocábulos continuam a emergir em fantasias selvagens: gemem. contorcem-se. esfregam-se em sussurros alucinados e
húmidos – todo eu estremeço. acalento. as veias endurecem e ao ouvido o
prazer supremo: és único. não há outro como tu – e entre elas
corre agora um mel pegajoso que anuncia.
a todo o momento. o orgasmo – o
papel está pronto – enfeitiçado pela luz refletiva das palavras e pela generosidade
de um corpo ávido de sucesso. derreto-me
em sequiosas perversões reprodutivas: multiplicai-vos
e enchei a terra de palavras – finalmente uma relação de simbiose: elas excitam-me e eu levo-as à
loucura da leitura – não quero mais o passado. as palavras rascas e indiferentes nunca mais serão pronunciadas –
quem nunca me compreendeu não merece o extasiamento verdadeiro de uma leitura –
o melhor do mundo são as palavras – o que seria de nós sem as palavras. sem amo-te. sem paixão. sem abraço. sem beijo. sem quero-te. sem desejo-te. preciso de ti. tu és tudo o que necessito para ser feliz. para existir. para me
fazer eterno. ejacular e fecundar – as palavras são tudo – resta-me
aproveitar cada dia desta paixão certa e sedutora – estou completamente apaixonado e assim espero que continue. porque se me perguntarem se podia
viver sem elas - “poder podia. mas não era a mesma coisa”
[versão alterada de 23/11/2009]
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