.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

28/05/2019

deambulações noturnas XXXVIII





pintura - cristina strapação




sabem: gostava imenso de construir uma casa nas nuvens sem que ninguém me apontasse o dedo por viver nas alturas





26/05/2019

resisti ao desânimo – eu voto






imagem google




estou triste. descrente e irritado – o homem ocidental emergiu acorrentado a um pensamento religioso dominante. escravizou-se num denominador comum a toda a europa antes das descobertas marítimas. e depois. alargou a sua influência às colonizações – a esta religião. o cristianismo [outras há mas com menor implantação]. está implícito um determinado comportamento dos costumes. da moral e da ética. estereótipos manipuladores que moldaram “negativamente” padrões de uma sociedade que se quer livre e genuína – o fundamentalismo religioso. através da palavra. manipulava. condicionava e controlava o evolucionismo do homem – para esta comunidade religiosa a verdade absoluta é que os homens [todos]. foram criados à semelhança de adão – teorias como as de darwin não eram toleradas nesta[s] organização[ões] de fé em deus – a religião acabou por estender os seus tentáculos ao mundo científico. condicionando a sua evolução. mas também. recuando ao seu passado para manipular factos históricos – a bíblia era a resposta para todos os males do mundo: o que corria bem era obra do santíssimo. se corria mal. os desígnios de deus são insondáveis – castrado. o homem foi apodrecendo lentamente – criou-se uma fragrância dos dejetos humanos. horrorizou-se os aromas naturais e deixamos de procurar a primavera com medo de perder o inverno – só os poderosos: clérigo. nobreza e ordens militares gozavam de privilégios especiais em relação às demais camadas da sociedade – esta europa vivia em festa. as suas casas reais através de impostos elevadíssimos aos mais desfavorecidos. ostentava a sua glória em banquetes. roupas. jóias. etc. enquanto o seu povo sobrevive numa desumanização brutal. viviam em guetos de pobreza. sem acesso à educação. à saúde e cargas de trabalho elevadíssimas para salários miseráveis – era este o sacrífico para a sobrevivência –  com o passar dos séculos e a imergente insatisfação do povo. as nobrezas. aos poucos.  foram substituídas por monarquias constitucionais ou repúblicas corruptas: democracias tirânicas onde os roubos são permitidos em nome de um estado pervertido pelos grandes grupos económicos – estas democracias criminosas.  permitem escandalosamente que os ricos fiquem mais ricos de uma forma legal – mas claro está que para branquear os lucros sujos a transparência e equidade das leis tiveram que ser adulteradas e ajustadas à ganância dos novos democratas e. para isso. nada melhor do que criar uma nova classe nobre: os “ricos” políticos das novas democracias – poder e dinheiro em troca de mais dinheiro e poder – este é o verdadeiro trabalho dos políticos da nova ordem de classes na europa – que se lixe o povo. que se lixe a poluição. os oceanos. as florestas. os animais em vias de extinção. as populações do interior. a saúde. a educação. a natalidade. e que se lixe o futuro e o planeta terra – o importante para este grupo de malfeitores [é claro que há exceções. raras. mas há] é o dia de hoje e o seu modo de vida corrupto – trabalhou-se a ideia de que a democracia pensada pelos gregos tinha emergido. depois de uns quantos séculos. numa nova versão melhorada e mais justa – agora sim. o povo é quem mais ordena e as eleições a sua arma – depressa percebemos que a grande arma das democracias já não é o voto mas sim os media e também rapidamente percebemos que estes não são controlados pelo povo. mas fazem parte das ferramentas do mal de grandes grupos económicos – os perversos. da direita ou da esquerda. subtilmente e graciosamente ajudam a colorir o voto de acordo com os seus interesses – ainda recentemente tivemos a eleição do trump e bolsonaro – o mundo ocidental trabalhou e projetou a padronização da opinião e organizou-se em camadas totémicas circulares [formato cone. os mais poderosos na parte superior. o refugo na sua base]. planificou a liberdade minando-a e influenciando negativamente o pensamento. condicionando a evolução natural do homem – quem não se adaptar a esta pirâmide do horror está excluído do mundo dos afetos socias. das oportunidades de trabalho decentes. dos cuidados de saúde. da alimentação. da habitação e da educação – criamos uma sociedade de homens envergonhados. o mundo das margens. da ostracização. da incompreensão. das comunidades dos porquês silenciosos – e por mais perguntas que se faça não há resposta para que mais de oitenta porcento da riqueza do mundo permaneça nas mãos de apenas um porcento da população – as sociedades ocidentais contemporâneas. capitalistas na sua estrutura neoliberal. globalizada. roubou o sonho do homem. escravizou-o. encarcerou-o no consumismo – o homem contemporâneo nasce dentro da prisão que os seus pais ajudaram a construir – resignado. subserviente. amedrontado e conformado. respira para sobreviver e sobrevive pela fé – o homem revolucionário que anceia viver a verdadeira liberdade numa comunidade justa. igualitária e fraterna. percorre a sua presença no mundo à procura do que deveria ser seu por direito: a felicidade nas relações socias e principalmente no seu emprego como factor de integração e crescimento para vir a ser o que realmente é – este homem resiliente é constantemente contrariado por grupos económicos imorais. obscenos. desonestos. cruéis. cínicos. que vivem sem regras ou então. vivem com as regras que criam – esta gente transformou o mundo numa selva nojenta [nem sempre foi assim. nem todos os homens são nojentos e nem todo o progresso existiu para se tornar nojento] – o sucesso do homem é calculado pelo lucro que gera e a prepotência física e moral a única ferramenta usada para atingir esse resultado – esta sociedade vai ao limite da imoralidade para conseguir o que pretende e a ética e os princípios a ela associados: a justiça. a dignidade. a honestidade. a integridade. a honra. a igualdade. o respeito pelos outros. a liberdade. a fraternidade. são constantemente espezinhados e sempre que estes valores são espezinhados o homem perde a sua dignidade e não há homens felizes sem dignidade – kant. na fundamentação da metafísica dos costumes defendia que as pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas. e não como um meio – só um homem iluminado será capaz de se emancipar das normas ultrajantes impostas por nações também ultrajantes. de se reinventar. de revolucionar os povos oprimidos e recuperar de vez a sua liberdade. tendo por pilar a ética da responsabilidade – está na hora de recuperar a carta universal dos deveres e obrigações dos seres humanos de saramago e obrigar as nações a implementá-la e respeitá-la definitivamente – a vida humana só vale a pena ser vivida se for alicerçada na declaração dos direitos do homem – é hora de voltar a falar de valores coletivos e perceber que o mundo dos homens e a sua coesão social está abalada. está triste. desgastado. sem ferramentas para se revoltar – sem reinventarmos os valores colectivos nunca haverá uma nova ordem universal – precisamos urgente desta nova ordem. precisamos mais do que nunca do inconformismo e do evolucionismo do homem. acabar com a tirania de alguns e recomeçar com o que sobra do homem bom. justo e fraterno – é o momento certo para nos inspirarmo-nos no passado. nas grandes revoluções: na revolução francesa; na revolução americana; na revolução liderada por martin luther king que levou à revogação das leis racistas; no maio 68. um movimento estudantil que levou ao fim de posturas conservadora e a melhores condições de trabalho; na revolução das mulheres que em 1945. através da carta das nações unidas. declara a igualdade de direitos entre homens e mulheres; no fim do apartheid em 1994. liderado por nelson mandela. impuseram o fim de um regime racista na áfrica do sul; e mais recentemente a primavera árabe. um movimento de protesto e revoltas populares contra regimes ditatoriais do mundo árabe e que levou à queda de vários governos e regimes – bem sei que nem todos os países tem um zeca afonso e também sei que sem zeca não há grândola vila morena e sem grândola vila morena não é fácil fazer marchar o povo. a fraternidade. a igualdade. a dignidade e a liberdade – para mudar o mundo é preciso um pensamento. uma estrada e um amigo – tudo o resto acontece como sempre acontece quando os homens se juntam por bem – lembrar para sempre o nosso 25 de abril – só temos uma arma: o voto – sou um cravo de abril e nunca falhei uma ida às urnas. nunca fiquei em casa. nunca ninguém ma dirá que por minha culpa. o partido A ou B. chegou ao poder apenas porque me deu a preguiça ou desisti de lutar e acreditar – hoje voto mais uma vez – tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia nasce um zeca. um zeca do mundo inteiro. e a sua música. desta vez. fará marchar todas os homens para um novo mundo: mais paz. mais fraternidade. mais igualdade e mais justiça





sonho











um estudo científico que concluiu que caminhar ajuda a controlar a corrente sanguínea no cérebro – é capaz de ser verdade. acredito mesmo que assim seja. por isso é que não paro de caminhar dentro de mim. não posso correr o risco de o meu cérebro entrar em colapso e deixar de sonhar – todos os meus sonhos são fabricados no coração. depois. são bombeados em circuito fechado até ao cérebro – com a ajuda dos neurónios descodifico-os e passo-os para a linguagem afetiva. a linguagem dos abraços – ainda dizem que o coração é apenas um músculo. que palermice – o que seria de mim sem a generosidade do coração para fabricar sonhos – sinceramente não sei – todos os sonhos começam por me desequilibrar. para logo de seguida me equilibrarem numa irracionalidade que não sei escrever – sou acometido por uma esperança imortal. uma fé estranha de que tudo irá dar certo. deixo de ter medo. as estrelas reorganizam-se no céu e escrevem o meu nome com milhões e milhões de poeiras incandescentes – e ali fico. envenenado de doçura. a olhar o céu como se todo o espaço sideral fosse meu – deslumbro-me – penduro-me nas letras e baloiço entre o que sonho ser. e o que na verdade sou – queria ter coragem para esquecer o corpo e viver para sempre neste vai e vem afetivo – fecho os olhos ainda com mais força e não falo. não quero acordar. não quero voltar ao mundo das cicatrizes – aqui aqui sei que sou feliz – tal como disse mário quintana. sonhar é acordar-se para dentro – quando acordo para dentro fico abrasivo. inquieto. movediço e apetece-me nunca mais regressar à verdade. apetece-me escorraçar-me do tempo que não anda para trás. e chorar. chorar sem parar – não posso ter vergonha de chorar. e se as lágrimas me caírem nas mãos talvez possa refrescar as fontes. acalmar o corpo ou dar de beber aos sonhos. ou atirá-las ao ar e fazer chuva. ensopar os lençóis. ou a roupa do corpo se estiver no colo da minha mãe – molhámo-nos os dois e depois abraçámo-nos como mãe e filho. eu digo-lhe que a amo e ela diz-me que serei para sempre o seu menino – não quero deixar de sonhar. não quero que o abraço termine. não quero que o mundo acabe dentro de mim – preciso de sonhar para viver – sento-me. encosto-me a um pulmão. puxo os joelhos para o tronco. aperto-os até que a vontade de chorar desapareça e entrego-me ao silêncio – é no silêncio que reparo os danos de viver com os olhos abertos – abro os braços e voo até à montanha mais alta do mundo. e atiro-me ao vento como se atiram as gaivotas. e voo. voo como voam as pessoas felizes. sem medo e numa liberdade de arrepiar. por lugares que só existem quando os sonhos nascem no coração – quem tem coragem de não gostar deste mundo redondo. azul. com mares. com alma. sol e sal?! – eu adoro sonhar neste mundo – com o pôr-do-sol sento-me na lua e vejo as luzes da minha cidade acender uma a uma. e percebo que dentro de cada casa há corações que fabricam sonhos como o meu – nesta cidade que me deu o nome. a minha casa é apenas um pontinho do tamanho de um alfinete – eu também sou do tamanho dos alfinetes. sempre fui do tamanho dos alfinetes – nasci assim – só os sonhos é que são enormes. às vezes são tão gigantes que até acabam por me magoar – não importa. não sonhar é o prelúdio para a morte – quando não estou a sonhar nunca esqueço o meu mundo. o mundo redondo. azul. com mares. sol e sal. e mesmo em exaustão emocional sei que será sempre o mundo onde nasci. e também sei que só neste mundo é possível fechar os olhos e sonhar – é o meu passado que me faz acreditar nos sonhos – sempre que a noite chega abraço-me para que o coração se lembre que vivo de sonhos – gosto de sonhar e gosto do meu coração – sonho para que o futuro me encontre – “é o sonho que comanda a minha vida”






12/05/2019

deambulações noturnas XXXVII




pintura - thomas arvid 





quando o carácter de um homem fica privado de educação e graciosidade o mais certo é falecer de uma overdose de estupidez - e mesmo que sobreviva as lesões podem ser irreversíveis e permanentes






08/05/2019

para ti









no fim da noite
quando já nada existe para além de nós
e o teu corpo
repousa em sonhos que não vejo
sorrateiramente
pergunto aos olhos que dormem:
ainda estás apaixonada?

e ali fico
alimentando o silêncio
como se a doçura do teu respirar me fosse oferecido
e pergunto-me:
o que sei de ti que o coração não saiba
nada meu amor
guardei-te para sempre
no homem que geraste

e aqui fico
[preso à infinitude de ti em mim]
num consolo calmo  e desapoquentado
a sentir o mistério do amor
percorrendo-te
como se fosses o último pecado
numa inocência
esmagada de paixão

e quando o meu tempo na terra terminar
que sejam os teus olhos
os últimos a ver
e as tuas mãos as últimas a ameigar
porque tu
serás sempre o único mundo
onde existi





02/05/2019

a grandeza de um poeta reflexivo





imagem google




último pensamento da noite:



mais vale ser rico. ter saúde e escrever boa prosa. do que pobre. doente e dar erros ortográficos numa prosa de merda