há um estudo científico que concluiu que caminhar
ajuda a controlar a corrente sanguínea no cérebro – é capaz de ser verdade. acredito mesmo que assim seja. por isso é que não paro de caminhar
dentro de mim. não posso correr o
risco de o meu cérebro entrar em colapso e deixar de sonhar – todos os meus
sonhos são fabricados no coração.
depois. são bombeados em circuito
fechado até ao cérebro – com a ajuda dos neurónios descodifico-os e passo-os
para a linguagem afetiva. a
linguagem dos abraços – ainda dizem que o coração é apenas um músculo. que palermice – o que seria de mim
sem a generosidade do coração para fabricar sonhos – sinceramente não sei – todos
os sonhos começam por me desequilibrar.
para logo de seguida me equilibrarem numa irracionalidade que não sei escrever
– sou acometido por uma esperança imortal.
uma fé estranha de que tudo irá dar certo.
deixo de ter medo. as estrelas reorganizam-se
no céu e escrevem o meu nome com milhões e milhões de poeiras incandescentes – e
ali fico. envenenado de doçura. a olhar o céu como se todo o espaço
sideral fosse meu – deslumbro-me – penduro-me nas letras e baloiço entre o que sonho
ser. e o que na verdade sou – queria
ter coragem para esquecer o corpo e viver para sempre neste vai e vem afetivo –
fecho os olhos ainda com mais força e não falo. não quero acordar. não
quero voltar ao mundo das cicatrizes – aqui…
aqui sei que sou feliz – tal como disse mário quintana. sonhar é acordar-se para dentro – quando acordo para dentro fico abrasivo. inquieto. movediço e apetece-me nunca mais regressar à verdade. apetece-me escorraçar-me do tempo que não anda para trás. e chorar. chorar sem
parar – não posso ter vergonha de chorar.
e se as lágrimas me caírem nas mãos…
talvez possa refrescar as fontes. acalmar
o corpo ou dar de beber aos sonhos. ou atirá-las ao ar e fazer chuva. ensopar os lençóis. ou a roupa do corpo se estiver no colo da minha mãe –
molhámo-nos os dois e depois abraçámo-nos como mãe e filho. eu digo-lhe que a amo e ela diz-me que serei para sempre o seu
menino – não quero deixar de sonhar.
não quero que o abraço termine. não
quero que o mundo acabe dentro de mim – preciso de sonhar para viver – sento-me. encosto-me a um pulmão. puxo os joelhos para o tronco. aperto-os até que a vontade de chorar
desapareça e entrego-me ao silêncio – é no silêncio que reparo os danos de viver
com os olhos abertos – abro os braços e voo até à montanha mais alta do mundo. e atiro-me ao vento como se atiram as
gaivotas. e voo. voo como voam as pessoas felizes. sem medo e numa
liberdade de arrepiar. por lugares
que só existem quando os sonhos nascem no coração – quem tem coragem de não
gostar deste mundo redondo. azul. com mares. com alma. sol e sal?! –
eu adoro sonhar neste mundo – com o pôr-do-sol sento-me na lua e vejo as luzes
da minha cidade acender uma a uma. e
percebo que dentro de cada casa há corações que fabricam sonhos como o meu – nesta
cidade que me deu o nome. a minha
casa é apenas um pontinho do tamanho de um alfinete – eu também sou do tamanho
dos alfinetes. sempre fui do tamanho
dos alfinetes – nasci assim – só os sonhos é que são enormes. às vezes… são tão gigantes que até acabam por me magoar – não importa. não sonhar é o prelúdio para a morte
– quando não estou a sonhar nunca esqueço o meu mundo. o mundo redondo. azul. com mares. sol e sal. e mesmo em
exaustão emocional sei que será sempre o mundo onde nasci. e também sei que só neste mundo é possível fechar os olhos e
sonhar – é o meu passado que me faz acreditar nos sonhos – sempre que a noite
chega abraço-me para que o coração se lembre que vivo de sonhos – gosto de
sonhar e gosto do meu coração – sonho para que o futuro me encontre – “é o
sonho que comanda a minha vida”
Sem comentários:
Enviar um comentário