.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

01/04/2019

esdruxulamente insignificante





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respiro e resisto neste respira[-]mento[e] que me cansa – às vezes gostava de estrangular esta minha respiração. matá-la. estropiá-la. obrigá-la a falecer no mundo das pessoas – para falar verdade. o que gostava mesmo. era de esconder-me desta civilização bárbara – nesta vida já não valho nada. só a morte me porá de novo no mundo das coisas com interesse – mas quero que saibam. aqueles que ousadamente tiverem a coragem de ler estas palavras até ao fim.  que estou lúcido. esperto e desperto para as antíteses que alimento em mim – por isso é que resisto neste respirar de socorro – vivo de antíteses. são estas que me despertam da escuridão silenciosa. são estas que me equilibram o desequilíbrio imposto por um mundo sem generosidade. sem tolerância. sem respeito e onde eu me recuso a acreditar de que há sempre uma razão superior para as coisas acontecer como acontecem – convictamente digo: não há nenhuma razão superior a não ser a razão que os homens inventam – também eu inventei uma razão para me fazer existir nesta forma esdruxulamente insignificante: plantei uma linha imaginária no centro do meu cérebro: de um lado a insignificância. do outro. o saber para compreender e aceitar tudo que é insignificante – [suportação encontrada] – pendurado nesta linha de loucura intermitente eu numa composição orgânica dolorosa: ora numa assimilação tremelicante. ora numa desassimilação pindérica – aguento-me. suporto-me. tolero-me. amarro-me aos ossos emersos na última reserva de líquido amniótico – pelas manhãs acendo-me numa energia raivosa e baloiço-me de um lado para o outro. ora no que não sei. ora no saber do que não sei – quando baloiço o destino constrói-se. mistura-se e ajusta-se – a vida foi-me oferecida por dois seres maravilhosos – quando fazes parte de algo tão maravilhoso ficas para sempre com a obrigação de respirar – sempre que respiro aceito viver – respiro gratidão – coloco o pescoço a noventa graus. olho o topo. o corpo encaracola-se. sobe por si acima porque é a única forma de descer à terra – procura – o que não vejo. sinto ou toco. não existe – se nada existe. então. quem sabe. os meus sonhos também não existem – eu não sonho. sou apenas parvo. a minha biologia evolutiva degenerou – a evolução do homem é a acumulação de mudanças através de sucessivas gerações – eu não mudei nada. sonhei. ”elastifiquei-me” no que não sou e o resultado é esta caverna inundada de sombras que nem sei se existem – e eu a baloiçar cada vez com mais força. a suster a respiração. as lágrimas. a raiva e o corpo perdido em incertezas que só existem porque teimo em fazer dos sonhos a realidade – e o mundo todo aos berros. com as línguas a tocar-me os pés. a dizer: lambe e verás como deixas de baloiçar – soubesse eu dar um mortal à retaguarda e cair de pé no mundo de quem não sonha e não lhe sente a falta – soubesse eu tanta coisa – agora. nos intervalos do soubesse. toco no que há para tocar. vejo o que me é oferecido ver e sinto o que o corpo entende que é mais do que desejo e menos do que sonho – tudo o resto. é o saber de quem sabe que nada sabe – quem sabe que nada sabe não pode ser tolo ou insignificante – mas é então o quê? 




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