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respiro e
resisto neste respira[-]mento[e] que me cansa – às vezes gostava de estrangular
esta minha respiração. matá-la. estropiá-la. obrigá-la a falecer no
mundo das pessoas – para falar
verdade. o que gostava mesmo. era de esconder-me desta civilização bárbara
– nesta vida já não valho nada. só a
morte me porá de novo no mundo das coisas com interesse – mas quero que saibam. aqueles que ousadamente tiverem a coragem
de ler estas palavras até ao fim. que estou lúcido. esperto e desperto para as antíteses que alimento em mim – por
isso é que resisto neste respirar de socorro – vivo de antíteses. são estas que me despertam da
escuridão silenciosa. são estas que
me equilibram o desequilíbrio imposto por um mundo sem generosidade. sem tolerância. sem respeito e onde eu me recuso a acreditar de que há sempre uma
razão superior para as coisas acontecer como acontecem – convictamente digo: não há nenhuma razão superior a não ser a razão que os homens
inventam – também eu inventei uma razão para me fazer existir nesta
forma esdruxulamente insignificante:
plantei uma linha imaginária no centro do meu cérebro: de um lado a insignificância.
do outro. o saber para compreender e
aceitar tudo que é insignificante – [suportação encontrada] – pendurado nesta
linha de loucura intermitente eu numa composição orgânica dolorosa: ora numa assimilação tremelicante. ora numa desassimilação pindérica – aguento-me. suporto-me. tolero-me. amarro-me
aos ossos emersos na última reserva de líquido amniótico – pelas manhãs acendo-me
numa energia raivosa e baloiço-me de um lado para o outro. ora no que não sei.
ora no saber do que não sei – quando baloiço o destino constrói-se. mistura-se e ajusta-se – a vida
foi-me oferecida por dois seres maravilhosos – quando fazes parte de algo tão maravilhoso
ficas para sempre com a obrigação de respirar – sempre que respiro aceito viver
– respiro gratidão – coloco o pescoço a noventa graus. olho o topo. o corpo
encaracola-se. sobe por si acima porque
é a única forma de descer à terra – procura – o que não vejo. sinto ou toco. não existe – se nada existe.
então. quem sabe. os meus sonhos também não existem – eu não sonho. sou apenas parvo. a minha biologia evolutiva degenerou – a evolução do homem é a
acumulação de mudanças através de sucessivas gerações – eu não mudei nada. sonhei. ”elastifiquei-me” no que não sou e o resultado é esta caverna
inundada de sombras que nem sei se existem – e eu a baloiçar cada vez com mais
força. a suster a respiração. as lágrimas. a raiva e o corpo perdido em incertezas que só existem porque
teimo em fazer dos sonhos a realidade – e o mundo todo aos berros. com as línguas a tocar-me os pés. a dizer: lambe e verás como deixas de baloiçar – soubesse eu dar um mortal
à retaguarda e cair de pé no mundo de quem não sonha e não lhe sente a falta – soubesse eu tanta coisa – agora. nos intervalos do soubesse. toco no que há para tocar. vejo o que me é oferecido ver e sinto
o que o corpo entende que é mais do que desejo e menos do que sonho – tudo o
resto. é o saber de quem sabe que
nada sabe – quem sabe que nada sabe não pode ser tolo ou insignificante – mas é
então o quê?
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