quarta-feira
em mercúrio – mercúrio é um deus mensageiro. e por
isso. eu que não sou deus. nem mensageiro. sou apenas um terráqueo que gosta de
escrever umas palermices – hoje. por ser um dia igual a um outro qualquer.
resolvi em boa-venturança trazer-vos esta mensagem excêntrica. expulsa de mim.
mas conformada. ou inconformada. não sei. a interpretação dependerá do astro
que rege o leitor – mas o que sei. ou quero acreditar saber. é que muito do que
sonhei não fui capaz de realizar. e o que não sonhei. realizei tudo. nada ficou
por fazer – o problema é que estou sem saber de quem é a culpa. se minha. se do
destino. ou se me enviaram para a terra para espiar os pecados da minha vida
anterior – se assim foi. estou certo de que a minha próxima vida será
fantástica. nem preciso de muita coisa. basta-me não sonhar – cresci a pensar
que todas as minhas ideias fornicavam. e que um dia. procriariam o futuro de
coisas inimagináveis – e o pensamento preso a uma gestação: um dia vou despejar
os meus espermatozoides pelo mundo e nascerão milhares de mim – é quarta-feira.
o ponto de encontro das contas. metade da semana já se foi… e eu sem gastar um
espermatozoide – rapo de papel e coloco um risco ao meio. de cima a baixo –
tenho agora duas colunas. o deve e o haver – e lá vou eu pela coluna do deve
abaixo: falta isto. falta aquilo. e ainda mais isto. e também aquilo… e já que
estou em contas. o melhor é também por isto e aquilo. e ainda mais isto. e
isto. e isto… raios. que aborrecimento. ainda falta aquilo e mais aquilo. e
mais uma tonelada de idiotices – é sempre uma trabalheira acertar as contas. é
muita puxada miúda. muito sonho e cêntimo para cá e para lá. e depois vem a
prova dos nove. com os seus noves fora… e sempre nada – de seguida passo para a
coluna do haver. e ali fico estático. como se fosse uma daquelas estátuas
gregas sem movimento. sem coiso no meio das pernas. a olhar para o que só eu
posso e quero enxergar. e pergunto: que raio fizeste até hoje? com que
espartilho te estás a delgaçar se as pernas estão inchadas de não caminhares?
não sei nada de pernas inchadas. mas a minha médica diz que faço retenção de
líquidos. creio que deve ter razão. sempre fiz retenção de alguma coisa. até
dos sonhos. para não falar do IVA – mas não sei. não sei nada de contas. nem
desta cabeça ourada – às vezes gosto de mim assim como sou. outras. pergunto:
porque raio é que tens um metro e oitenta se não consegues ser do tamanho de
nenhuma árvore? não sei. sei que é quarta-feira e gosto muito de ver o mar
prenhe de gaivotas
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