.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

23/12/2024

23 de dezembro de 2024





hoje é um dia muito especial. celebramos não só o aniversário da maria joão. que é a mãe dos meus filhos. mas também a vida que construímos juntos – uma vida cheia de amor. persistência. e tantas memórias preciosas – lembro-me como se fosse ontem. era carnaval. estávamos em um baile de garagem. foi lá que a pedi em namoro – passaram-se mais de 40 anos desde aquele "sim" e no dia 21 de julho de 1984 juntamo-nos para sempre – hoje. ao olharmos um para o outro. percebemos que envelhecemos por fora. mas por dentro. porém. o amor. permanece inalterável. mesmo com as injustiças que a vida nos impôs. subimos e descemos montanhas. enfrentamos dias em que o medo nos tirava o sono e a paz. mas nunca nos afastamos. continuamos a cumprir os votos que juramos um ao outro: na saúde e na doença. na alegria e na tristeza. na riqueza e na pobreza. e assim caminhamos. a subir e a descer imensas montanhas. mas mesmo nas mais íngremes. encontramos força um no outro para continuar – foi essa força que nos trouxe até aqui. mesmo com jornadas de muita dor. e com medo que o dia seguinte fosse ainda pior – nestes quarenta anos. esteve sempre a meu lado. nunca se queixou. guardou muitas vezes o medo para não me amedrontar mais. ergueu-me quando estava mais abatido. e curou-me com amor quando o coração estava mergulhado em fel – quando conheci a maria joão acreditei que estava perante uma mulher frágil. mas como me enganei. esta mulher que cresceu ao meu lado tornou-se forte. valente. corajosa. e hoje sei. que sem o seu amor e companheirismo nunca teria sobrevivido a tantos descontentamentos. sempre que a casa abanava. tal como sansão. abria as mãos e segurava o nosso castelo. era ali que os sonhos dos nossos filhos cresciam – hoje é um dia que é só dela. a matriarca está celebrada e é digna de todas as honras. e não podia deixar de lhe dizer que a amo. às vezes. falta-me uma palavra à altura desse sentimento. capaz de dar distância. talvez dizer-lhe que a amo daqui até vénus. que é a deusa do amor. e de vénus até aqui. onde eu a guardo – de lhe dar tonelagem. talvez dizer-lhe que o meu amor é de tal modo enorme que pesa mais do que cem toneladas. sem contar com os beijos e abraços – também um pouco de magia. talvez dizer-lhe que sem ela a minha vida seria marte. inóspita. deserta e cinzenta. sem pássaros. sem flores. sem rios a correr para o mar. sem primaveras. sem sol. sem amendoeiras em flor. e girassóis a procurar-me todas as manhãs – construímos juntos um castelo mágico. nele guardamos o mais importante da vida: a família. os filhos. o amor. e o sonho de morrermos nos braços um do outro – com a nossa união demos vida a três rapazes fantásticos. bons. que amam como nós a verdade. o respeito. a lealdade. a bondade. o trabalho. a justiça. e a família – o que há mais importante do que a família? nada – a casa multiplicou-se. chegaram três noras. que adoramos. são agora também do nosso sangue. dois netos e meio. um casal que amamos. talvez porque fizeram de nós pais pela segunda vez. e uma carolina que chegará para maio. mês de maria. e que alegria nos vai trazer. lembrar-nos-á para sempre a avó carolina. que nos ensinou tudo sobre o valor da família – a maria joão é uma companheira fantástica. uma mãe exemplar. nós sabemos bem o preço que pagámos para que os nossos filhos conquistassem a sua liberdade. foi também uma nora especial. os meus pais adoravam-na. preferiram-na sempre em detrimento dos filhos. acompanhou-os na doença até ao último dia. sem nunca lhes negar um carinho e um sorriso – nada do que somos hoje teria acontecido se não estivesse a nosso lado. sempre. noite e dia. com uma coragem imensa. e uma bondade que nos dá o sentido certo para a vida – vivemos os últimos 15 anos inseparáveis. cada viagem. cada momento no sofá. cada noite em que mexes nos meus pés. partilhamos todos os risos e choras. fundimo-nos um no outro. e o que sei mesmo. é que viveremos juntos até o último dia. porque tudo que és. tudo o que sou. tudo o que somos. é a maior dádiva que podemos celebrar – que o universo ilumine com estrelas o caminho que nos falta percorrer. até ao fim dos nossos dias  

 

quando o inverno chegar

se me encontrares frio

aconchega-me

sussurra ao ouvido

o amor que guardas em ti

mas. se nevar

se os pássaros de ruy belo

gelarem nas árvores

se as gaivotas uivarem

se os corvos sorrirem

faz um boneco de neve

que tenha o meu tamanho

com um coração enorme

que não pare de bater

e. senta-te junto a ele

conta-lhe a nossa história

diz-lhe como te amei

e como o amor nos sustenta

nesta separação gelada

e quando o sol brilhar

tu… vais existir

e eu…

na luz que guarda a saudade

dir-te-ei:

vivo em ti para sempre



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