.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

02/03/2018

e se...






imagem - google




leio a biografia de ernest hemingway e resisto à sua dor numa contemplação silenciosa e serena – interrogo-me. como seria eu se tivesse nascido em mil novecentos e sessenta e um? e se tivesse nascido na américa? e se trocasse a minha coca cola zero e me afundasse em álcool? e se a guerra infindável da minha escrita começasse a perguntar por quem os sinos dobram? não sei o que seria. em boa verdade nada sei. acreditem. nem sei muito o que é que me leva a escrever este texto meio maluco. afinidades. creio – hoje. com o hemingway por perto. estou convencido de que se fosse possível cavar um buraco a partir da minha terra este iria dar à américa. chegado lá. só teria que comprar uma arma para matar as palavras. não as que escrevo. porque essas já nascem mortas. as que me vivem na cabeça e que me enganam com esperança – estamos em dois mil e dezoito. março. às portas da primavera e do inferno e eu num ato de contrição: por minha culpa. máxima culpa vos escrevo não o que tenho na cabeça mas o que me falta nas mãos – sossego. afinal nunca saí de onde estou. sou desta terra de portas abertas e que tudo vê por um canudo. finjo-me morto e entrego-me ao pensamento até que uma voz me resgate para o barulho do mundo – morrer não é uma chatice é um desígnio que compramos e nos permite nascer. só não nos dizem o dia em que partimos. iludem-nos com tempo. como se o tempo fosse uma equação simples de calcular. não é. nem sempre viver cem anos é melhor do que cinquenta – viver é conduzir numa autoestrada em hora de ponta a duzentos quilómetros por hora. fazer dois piões. entrar por uma galgueira. andar em duas rodas. evitar trinta e três acidentes enquanto falamos ao telemóvel e sorrimos para o retrovisor com desdém porque o que fica para trás já não nos serve para nada – ninguém quer saber o que fizeste. só o presente faz futuro – quando damos conta chegamos ao destino meia hora mais cedo com a sensação de que o mundo está todo atrasado – estamos no nosso velório. louvado seja o senhor





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