pintura - victor brauner
há terra.
florestas. desertos. cidades e casas rodeadas de penúria –
há igrejas. sanatórios. casebres e albergues que não passam
de casas de putas – há sangue. vespas. sambesugas e ceifeiras vestidas de
preto a rebolar em campos que já foram de trigo – há raiva. vómito. dor e comboios
que só param no inferno onde tudo não passa de uma agonia miserável – e há
dentro de mim uma vontade enorme de meter a terra num foguetão e mandar tudo para
um caralho que foda todas as estrela do céu – e tudo na vida não passa de uma
prosa presa a uma cabeça de fósforo que arde como ardem as desordens no subconsciente
– se tivesse um pouco de sorte neste azar de quem já nada poder alterar nas palavras
que escreveu. e se o meu corpo em
vez de se decompor em estrume se decompusesse em abraços. quem sabe. a primavera
acontecia mesmo em tempo de inverno – e eu a olhar para mim. numa ambição que vai da terra até ao céu. e lá do alto. o que
vejo é saudade a cair dos bolsos.
como se fossem gaivotas e soubessem que a vida corre em janelas abertas
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