pintura - salvado dali
não desistas corpo notívago. vai
atrás do que é teu. vai. corre muito. corre como correm os clarões em noites de tempestade – vai. vai por esse mundo imaginário e
inventa-te em marte. por lá. tenho a certeza de que há lugar para
ti mesmo que te cuidem extraterrestre – não te zangues. verás que um dia serás mais do que a tua imaginação. mais que a tua intuição. mais do que escreves nas entrelinhas. serás das ruas com gente a correr de
um lado para o outro. dos carros a apitar movimento. dos maus a fugir dos bons. das sirenes a zumbir cuidados e dos
tolos. dos tolos meu deus. cada vez mais tolos fogem dos que
ainda não são tolos – o mundo esticado ao centímetro quadrado. o corpo esticado ao centímetro
quadrado. a alma esticada ao
centímetro quadrado. a fé esticada
ao centímetro quadrado e a incerteza parada em cada centímetro e o quadrado
enfeitado de malmequeres brancos capricha uma janela que não para de dizer: há mais mundo para além do teu medo –
sou tanto. tanto para dar e tanto
por fazer – mas vai. vai por esse mundo
fora. corre. corre muito porque marte é longe e o teu coração já não é novo. vai. vai que a fé já foi à tua frente e a vida está pela hora da morte. dobra-te na tua cruz e ora ao teu
deus que por ser teu é o deus de todos os deuses. vai. vai em sinal da
cruz porque só na janela há esperança.
a morte é negrura. às vezes solução mas
sempre solidão – um dia. os néons deixarão de piscar possibilidades
que não te cabem nos olhos. os bons
nunca mais fugirão dos maus. as ruas
correrão atrás das pessoas e os tolos distribuirão malmequeres pelos não tolos –
ó meu deus. porque será que quando
vou nunca saio de onde estou? talvez o mundo seja maior do que uma viagem a
marte. talvez não saiba voar no
espaço como voam as gaivotas no mar.
talvez seja quase do tamanho do nada e tudo que é nada nunca será mais nada. talvez os pés sejam minúsculos e
demorem a caminhar. as mãos
atrofiadas. o corpo mirrado. corcunda. feio. tão feio que
ninguém me quer olhar. nem deus –
talvez seja tudo ou apenas só eu – mas vai.
parte com coragem. faz-te ao tempo
interstelar. inventa ventos
meteóricos. manda foder a rosa dos
ventos e todos os azimutes convergentes com a desgraça. abre a janela ao espaço sideral e grita o teu nome. grita como um selvagem. grita como se o grito fosse a tua
história de vida. grita como grita a
cigarra em noite de cio. grita como
grita a corda saudosa na guitarra do fadista – vai. vai e despe a raiva para trás das costas e atirara-te ao espaço
em silêncio e luta. luta por ti e
por aqueles que te deram vida e se morreres.
morre de sorriso na boca porque o que não tem remédio remediado está – afinal
és apenas um mortal numa galáxia empanturrada de desejos – vai. vai vertical pela noite. vai. vai rastejante pelo dia.
mas vai. vai para onde te possas
encontrar
Sem comentários:
Enviar um comentário