não é culpa
tua minha mãe
saí apressado
para ir onde não queria chegar
e cheguei…
sem nunca
sair de onde parti
as gaivotas
iludiram-me com o vento
e eu…
ergui
castelos de areia
e fui…
e tornei-me
eu
e cresci
e tornei-me
ainda mais eu
e amei o que
calhou
às vezes
ingénuo
às vezes a
correr
às vezes sem
querer
às vezes…
arrependido
de ir onde não queria chegar
e chegar sem
nunca ter partido
a família
sempre foi o meu sustento
mas mesmo
assim…
empurrei-me
para sul
e cresci a
norte
era apenas
outono
e todas as
folhas
se fizeram
papel
e eu
a
perguntar-me
porque te
fizeste ao mar
se a tua casa
é maior de que neptuno
talvez pelo
vento minha mãe
talvez pelo
vento e as gaivotas
talvez por me
parecer outono
e todas as
folhas
se fazerem
papel
talvez por me
parecer fácil
crescer sem
ti
perdoa-me
minha mãe
por ir para
onde não queria chegar
e chegar sem
nunca sair de ti
perdoa-me
não é culpa
tua minha mãe
iludi-me com
o vento
iludi-me com
o vento e as gaivotas
mas sempre
foste tu minha mãe
e foi dentro
de ti
que aprendi a
amar
este vento
que me levou…
onde nunca
quis chegar
a minha mãe na nossa família simbolizou: a comunhão. a união. a força. a determinação. a resiliência. e a justiça – a minha mãe sentava-se à direita do meu pai – a minha mãe era uma mulher forte. líder. trabalhadora. mas dentro de si havia sempre uma manhã primaveril por nascer – era uma mulher do nosso século. independente. derrubou barreiras machistas sem nunca ser feminista – eu e os meus irmãos devemos-lhes tudo. colhemos amor. devoção. liberdade e responsabilidade do seu regaço – a minha mãe quebrou paradigmas e preconceitos. e tornou-se mais mulher no meio das mulheres. e o meu pai foi muito mais homem ao lado da minha mãe – não houve um único dia dos seus noventa e quatro anos que não pelejasse pela sua família – nada a fazia mais feliz do que saber que mantinha os seus meninos perto de si – partiu com os filhos a seu lado. e assim… continuamos até hoje – este é o legado que carrego. e que quero que os meus filhos apreendam. por ser nosso – e agora. que já envelheci o suficiente para ser um pouco mais sábio e humilde. recordo a minha infância com gratidão – nasci numa casa onde uma única porta servia o trabalho e a família – sem perceber. cresci e tornei-me adulto num berço de ouro – a juventude gosta de iludir-nos com artimanhas parvas e supérfluas. e acordamos sempre com a ideia de que nascemos com uma estrela na testa. que somos especiais. obra de um qualquer deus do universo – infelizmente. às vezes. precisamos avelhentar para perceber que as estrelas não pertencem a ninguém. vivem livres e acendem-se para nos confortar das desilusões – eu fui somente mais um humano neste universo enorme de almas – tive. isso sim. uma família especial. que se matava a trabalhar para que eu colhesse e vivesse uma mocidade que eles não tiveram direito – fiz-me homem. e tudo o que fui… aos meus pais o devo. foram eles que fizeram o caminho das pedras para que eu crescesse tranquilo. e caminhasse num tapete de generosidade – espero agora que os meus filhos tenham a sabedoria dos avós. e entendam rapidamente que o que temos de mais valioso é o legado da família. e a estrada que fazemos com ela. e por ela – os filhos não são todos iguais. mas são todos meus. e isso basta para que nos aceitemos uns aos outros. nas diferenças. porque em tudo o resto… somos família. e para sempre – não quebraremos este desígnio que herdamos. nunca – a família é uma âncora que arrastamos com um sorriso ao longo da vida
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