.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

02/12/2024

viagem

 


 



sou o que vejo

não em mim

mas nos outros

 

e o que os outros

veem em mim?

talvez o que não sou

ou então

mais do que sou por gratidão

ou por esta subtileza:

caminhar

para onde estou virado

  

mas o que sei

por ainda me tolerar

é que sou o que não se vê

invisível de mim mesmo

refém do tempo

prisioneiro das memórias

 

mas que interesse há em ser visto?

se sou o que vejo nos outros

e o que sinto?

quem vê?

apenas eu

por ser deste mundo

e suportar a certeza do ser…

por isso. lamento o vazio

do qual tento escapar

será que todos estamos errados?

ou só eu?

somos o que vemos

ou o que nasce deste ir e vir?

  

certezas?

só que a noite falece com o dia

e o dia foge da noite

e o tempo

preso na ampulheta

respira cada grão

de areia

carrega o nada

o que fomos

o que nunca seremos


e o que restará de mim

com o último grão

quando tudo acabar?

  

por isso prefiro acreditar

que todos são como eu

e eu como todos

e o que sinto é só meu?

ou talvez

a lucidez de um desatino?

 

talvez seja só meu

neste mundo de todos

sem compreender

que colorimos a vida

com nossas cores

 

se todos vissem o que eu sinto

que interesse teria?

se dentro de mim

pouca coisa faz sentido

e tudo o que sinto

é apenas dor

que se esconde no que sou

 

sou o que vejo

não em mim

e nos outros

sou o que não sou

 

com sapatos ou descalço

procuro o que sempre procurei

um outro que ande como eu

e que me diga se é desumano

ser o que vejo

 

e o que fazer

para deixar de ser o que vejo?

ser apenas eu

como nos dias

em que quero ser

e também não ser

o que vejo

e o que ninguém vê

 

sou o que ninguém vê

somos todos

todos

talvez ninguém