sou o que vejo
não em mim
mas nos outros
e o que os outros
veem em mim?
talvez o que não sou
ou então
mais do que sou por gratidão
ou por esta subtileza:
caminhar
para onde estou virado
mas o que sei
por ainda me tolerar
é que sou o que não se vê
invisível de mim mesmo
refém do tempo
prisioneiro das memórias
mas que interesse há em ser visto?
se sou o que vejo nos outros
e o que sinto?
quem vê?
apenas eu
por ser deste mundo
e suportar a certeza do ser…
por isso. lamento o vazio
do qual tento escapar
será que todos estamos errados?
ou só eu?
somos o que vemos
ou o que nasce deste ir e vir?
certezas?
só que a noite falece com o dia
e o dia foge da noite
e o tempo
preso na ampulheta
respira cada grão
de areia
carrega o nada
o que fomos
o que nunca seremos
e o que restará de mim
com o último grão
quando tudo acabar?
por isso prefiro acreditar
que todos são como eu
e eu como todos
e o que sinto é só meu?
ou talvez
a lucidez de um desatino?
talvez seja só meu
neste mundo de todos
sem compreender
que colorimos a vida
com nossas cores
se todos vissem o que eu sinto
que interesse teria?
se dentro de mim
pouca coisa faz sentido
e tudo o que sinto
é apenas dor
que se esconde no que sou
sou o que vejo
não em mim
e nos outros
sou o que não sou
com sapatos ou descalço
procuro o que sempre procurei
um outro que ande como eu
e que me diga se é desumano
ser o que vejo
e o que fazer
para deixar de ser o que vejo?
ser apenas eu
como nos dias
em que quero ser
e também não ser
o que vejo
e o que ninguém vê
sou o que ninguém vê
somos todos
todos
talvez ninguém