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faz
hoje
um ano que publiquei a minha crónica de despedida do ano 2017 – habituei-me a
fazê-lo anualmente num gênero de balanço emocional – o ano passado a escrita
foi marcada pela raiva. estava
desiludido. zangado com o destino e sentia o mundo às costas – sempre gostei
de metáforas hiperbolizadas – hoje.
percebo que não era a mãe de todas as raivas mas era unicamente a
sensação-confirmação de que deus. seja
a identidade que for. não vê tudo ou
está desatento – este ano. o dito
deus. continua ausente. não me liga nenhum. não me ama como seria pressuposto
amar e também não está em todos os lugares como também seria pressuposto estar
– na crónica de 2017 lembro-me de me conter nas palavras ordinárias. dissimulei-as. enfarpelei-as com etiqueta.
embebedei-as com vasilhames alcoólicos que me ofereceram pela festa do santo
natal e de seguida. matei-as como se
matam os perus. depois. depois foi só temperá-las com uma
manada de sal em pedra. levá-las ao
calor da vida e finalmente empratá-las como se fosse um chefe agraciado com
estrelas michelin – foi a forma que encontrei de proteger os meus familiares. amigos e amigos leitores do meu “año
horrible” – foi um ano muito mau e como dizem os nossos nuestros hermanos: no creo en brujas. pero que las hay. las
hay – passou um ano e as bruxas não me desocuparam o corpo. são sempre leais com quem amarga e geme. instalaram-se de malas e bagagens e não vejo forma de as despejar
– por tudo isto a raiva não desapareceu.
não diminuiu e creio até que dilatou – confesso-vos que me encontro perdido com
as palavras. não sei o que fazer
para que esta crónica-balanço. em oposição
à do ano passado. ofereça uma diferença positiva no seu conteúdo
– a minha vida está sistematizada pela adversidade. um género de existência em série. padronizada numa luta constante. com picos emocionais sofridos.
incontroláveis e exponenciados por uma dúvida existencial – salva-me o
pé-de-meia emocional. amealhado nos
anos dourados. permite-me agora ter
um fluxo do cash-flow positivo.
garantindo desta forma o autofinanciamento anímico-cerebral sem ter que
recorrer a químicos – tudo que tomo para me aguentar são palavras. analgésicas potentes que. depois de escritas. aliviam as mágoas aumentando os
intervalos das recaídas – mas voltando ao novo ano. o que vos posso garantir [mesmo] que vai mudar é a hora de
inverno com a chegada da primavera – [não se riam por favor. nem sempre sabemos ou vemos o óbvio] – também vos posso afiançar
que em abril. se lá chegar. irei ficar mais velho um ano. certificando de vez a qualidade das
minhas dores das costas – tudo o resto que possa dizer em relação às minhas
expectativas aviso-vos que pode muito bem ser parte de uma maquiavélica
maquinação do professor cuecas com um novo conto do vigário. desta vez numa história de banda desenhada – infelizmente também
não mudarei o rating da fé. está no
lixo e não creio que suba qualquer nível em 2018. tal e qual como o meu país o meu problema é estrutural. gasto mais tempo a pensar do que a
produzir – olho para o 2018 apenas como o calendário olha para mim: tens os dias contados. comunico-te que acabas de consumir
mais um dia da tua existência. estás
cada vez mais perto de tombar para a eternidade – que sorte – do 2017 quero
apenas recordar o casamento do meu filho.
fui muito feliz nesse dia.
oficializei a nora. sei que não era
necessário porque já me estava no coração.
nunca lho disse porque não sei falar.
todo o mundo sabe que não me dou bem com a oralidade. mas a minha intuição diz-me que ela já sabia e que o meu filho
também sabia porque os filhos quando se fazem adultos sabem tudo dos pais –
antigamente era eu que sabia tudo deles.
tudo mudou. envelheci por dentro e
por fora. mas amo-os
incondicionalmente – com a idade aprendemos a amar só com o coração. não necessitamos de os ver. tocar ou ouvir. amamos porque sabemos que existem em nós para além de todos os
dogmas. eles são a única razão para
o mundo existir e brilhar – o ano 2017 é o ano das noras. o meu filho mais novo apresentou-me a mais que provável nova nora. bonita. simpática.
independente. comunicativa e
determinada. como eu gosto. espero que se saibam guardar no
coração com lealdade. a vida sem
lealdade não presta – por fim o meu filho do meio anunciou um novo
relacionamento e [finalmente] reconquistou a vontade e determinação para
terminar o seu curso superior – como sempre estarei inteiramente a seu lado. aguardo por esse dia desde a sua
chegada à escola. já dobramos tantos
cabos das tormentas. não há dia
nenhum que não torça por ele e já agora.
que deixe de fumar. não por mim
mas pela sua saúde – só quando os filhos atingem os seus objetivos nós
atingimos os nossos – e é desta forma que aguardo o falecimento de 2017
agradecendo-lhe unicamente não ter levado ninguém que morasse no meu peito –
tenho como certo que os amigos continuarão a usufruir do meu batimento afetivo
em 2018 – no que diz respeito à família tudo continua firme e rijo. a minha mãe de noventa e três anos dá
o exemplo prometendo estar por cá para 2019.
a lurdes. minha segunda mãe. quase nos oitenta anos continua a
teimar. o que vai ser de nós sem ela. devo tanto a esta mulher – da família da minha mulher faço figas
para que o meu sogro continue a lutar por todas as recordações. orgulho-me de fazer parte dessa vida
guardada e quero continuar vivo no seu olhar até 2019 – por fim. o que não muda à trinta e quatro anos
é a companhia da minha mulher. sempre
avançamos juntos e destemidos sobre os novos anos – assim será hoje. não há forma de os anos nos cansarem. brindaremos mais uma vez como
crianças. trocaremos um beijo que
nunca é igual e renovaremos os nossos votos de que estaremos unidos até que a
eternidade nos separe – amo-a mais por cada ano que passa – é ela que inventa o
sol que me ajuda a sorrir – obrigado também a todos aqueles que gastam o seu tempo
a ler as minhas palermices. vocês
são fantásticos. sem o vosso
companheirismo nada disto faria sentido – espero-vos em 2018 – grato como
sempre – feliz ano novo
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