gosto
de
quem passa do meu lado e também gosto de quem passa do outro lado – gosto de
quem passa para cá e também gosto de quem passa para lá – gosto de quem desce
do céu e também gosto de quem sobe do hades – gosto dos desconhecidos e também
gosto dos conhecidos – gosto dos amigos porque gosto e também gosto dos amigos
porque gostam de mim – gosto da minha família e não posso parar de gostar
porque são sangue do meu sangue – gosto da minha companheira porque sem ela
nunca saberia pronunciar o verbo gostar no incondicional – gosto de a ter a meu
lado. gosto de a respeitar. gosto de lhe dizer que é a mãe dos
meus filhos o que concede valor divino a este gostar – gosto de a segredar. gosto de a ver sorrir. de a sentir feliz. respeitada por mim e por quem lhe passa na vida. e gosto de lhe dizer: amo-te – gosto de a olhar nos olhos. gosto de a abraçar e mesmo nos dias
em que não a abraço sei que não parei de gostar – gosto do silêncio do abraço. de a trazer para dentro de mim e
escondê-la do mundo da estupidez e da raiva de quem não cabe dentro de um
abraço – gosto de abraços. de
abraçar e ser abraçado – um homem sem abraços é um homem pequenino. raquítico e enfezado – gosto de fazer
alegria mesmo que dentro de mim a tristeza não me queira ver sorrir – gosto da
vida cheia de gente. de gente que
fala. que fala porque gosta de falar
e que abraça porque gosta de abraçar – e agora. depois dos “cinquentas”.
mais sábio. mais tolerante. também gosto daqueles que encontram
desculpas para nada aprenderem com a doçura de um abraço. para a sua falta de gentileza por fadiga. de cortesia por sexismo de género. de educação por iletrismo e de nobreza por défice de excelência –
só não gosto de gente que procria a vulgaridade conspurcando as relações sociais
com um neandertalismo que julgava extinto – mas não importa. o importante mesmo é que gosto deste mundo redondo. azul. com mares. sol e sal. mesmo que às vezes me apareçam bestas
quadradas. negras. sem mares. sem sol e sem sal – mas a vida é o que é. e hoje sabe-se que a evolução do homem não está completa. e também se sabe que alguns ficaram
para trás. perderam-se na
centrifugação do mundo e foram jogados para os polos – mesmo assim. gosto de andar por cá e continuo a
gostar desta terra que herdei fruto de um abraço especial há mais de cinquenta
anos – pudesse eu explicar-lhes o valor desse abraço que me gerou. quer dizer. eu poder. podia. mas valeria a pena?! haveria QI?!
haveria vontade de sair dos polos?! não importa. existirei sempre para além da escuridão. do erro. da tristeza. da desilusão – sempre – e na minha
mão. umas quantas flores colhidas em
mim… para vocês
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