foto - sampaio rego
não escrevo
para outros e nada dos outros vos trago para ler – sou assim sem saber porquê –
escrevo com a mão de um outro que me ocupa selvaticamente um corpo extorquido
com usufruto – uma caução de morada até à morte – e é este miserável que me
entrega com rudez tal e qual como sou.
sem nenhum padrão de gratidão. ignorando
o meu apelo sofrido ao silêncio – para
a frente da fala não há mais recuo – a palavra é uma escritura onde o meu corpo
exterior é avalista no mundo dos sons – não é fácil. acreditem – mas um dia serei pó e poderei definitivamente ocupar
o lugar à direita do meu pai numa eternidade piedosa – o ocupador. selvagem. elementar hospedeiro de um corpo amaldiçoado por um deus de pedra. vai perdurando a ocupação numa simbiose
forçada – ficará para sempre
acorrentado ao peso das palavras. umas
vezes em pecado capital. outras em
clemência sofrida – quanto a mim. quando
ando por aí. perdido numa modéstia
de nojo. nunca nada vos direi. o silêncio não me é imposto. é uma forma de vida – a felicidade
chegará com a mutilação
Sem comentários:
Enviar um comentário