.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

05/06/2016

dasabafo




foto - sampaio rego
 
 
 

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro” - Clarice Lispector
 
e é nestes cortes que sustento o corpo num equilíbrio suicida. um impulso contido de raiva. de expurgação e de purificação – escrever é um ato de fé – sou um homem só numa só escrita – as amizades estão cada vez mais difíceis de se escrever – os dia são agora de um outro mundo. tecnológico. amplificador para o bem ou para o mal. divergente na escrita. convergente na identificação da felicidade. extremados no amor e no ódio onde os amigos nascem ao pontapé: és um querido meu amigo. és bonito meu amigo. amigo o teu sorriso é o espelho da tua alma. adoro-te amigo. tenho saudades de te ver amigo. és único meu amigo. e as ligações em fibra ótica a levar a burla aos quatro cantos do mundo – aqui estou eu neste desabafo inócuo apenas porque me recuso a usar a palavra amigo em vão – cada vez gosto menos das pessoas que me entregam adjectivações de excepção e depois as vejo gastas ao preço da uva mijona – nesta nova arte de fazer amigos pelas redes sociais sou um inadaptado - por isso corto nos gestos. nas palavras. nos abraços. nos sorrisos. nesta forma de me dar e de raramente dar uma palavra a quem não a merece - não gosto de enganos. não gosto de erros grosseiros  e também não gosto de erros de simpatia. – não quero lacunas nos cânones da palavra amigo - não sou santo agostinho e de peixes pouco entendo mas sei que a palavra amizade é o único brilho que me incendeia os olhos – há palavras que me custaram a ganhar. muito mais que um dia de trabalho. ou um mês. mais de um ano. quase tanto como a vida que agarrei. um esforço que não vem de nenhum músculo. de nenhuma corrida. de nenhuma trovoada ou bonança. vem de um arrepio na pele. tão leve que ás vezes engana o coração – esta minha liberdade de amar pelo sentir é o único amor certo que ficará para depois da minha morte – não me enganem
.
.
e agora vou sair para o mundo onde a mentira é feita de sorrisos. mais podre que a internet. mais rasa que a lama. mais perigosa que um saco de víboras – amigos. vou a caminho
 




Sem comentários:

Enviar um comentário