.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

15/12/2016

vou. por ali vou





pintura híper realista - fábio magalhães




vou – lá vou eu a deambular pelos caminhos da noite. sozinho. como sempre. só assim sou capaz de me encontrar com a realidade crua da escuridão silenciosa – e lá vou eu passo a passo para dentro da justeza das memórias  – caminhar no passado é quase sempre uma crueldade – vou. em passo certo vou. vou pela noite adentro. sem receio. sem cuidado. sem defesa – na noite só a verdade emerge. os fantasmas deixam de ser fantasmas. a ilusão esmorece com vergonha e os sonhos. finalmente. adormecem de cansaço – também eles necessitam de sossegar. não é fácil viver atrás de devaneios  – vou. vou tão louco hoje como ontem – vou. vou tal e qual como sou. vou à procura de outras vidas que são estrelas no céu – vou. vou saudade. vou dentro de mim. vou de mãos nos bolsos. vou envelhecido. vou num assobio que se desvanece num tempo que já não mereço – vou. vou com o corpo como posso. vou contra um vento que me alimpa a face do que me sobra em pesar – vou. vou de rua em rua. e em cada esquina uma marca de que por ali passei sem nada saber do destino fadado – vou. vou porque preciso de ir – é urgente ir – só a verdade elimina o medo da morte


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