nick keller
se um dia todas as noites se
fizessem dia talvez eu me cansasse de escrever assim como escrevo. com esta
letra escura. negra. feita de desassossego. pendurada numa luz escorrida entre
palavras moribundas - aqui estou eu numa noite que não é dia. num dia que nunca
vai deixar de ser noite e tudo a balançar entre o divino e o pecado - já
não sei rezar à noite. talvez tenha perdido a oração. a vida. todos os momentos
são agora precipício - esta noite sou o que sempre fui. sou saudade que carrego
de uma rua que me grita para voltar - um dia voltarei ao mundo carregado de
dias sem noites. com luz que nunca apaga. com lua que nunca dorme. com cama que
nunca aperta – um dia serei louco. farei de cada letra um farol para
náufragos do papel perdidos em noites de negrume - um dia serei eu mesmo luz e
as noites nunca mais serão longe. o amor será perto e o corpo um pequeno mundo
- noite escura. negra de carvão. negra de almas pecadoras. negra como se o
negro não fosse uma cor de deus e eu um infiel maldito – este negro da noite mata-me
de solidão. sei que um dia perderei o que me resta desta pequena luz – se um
dia todas as noites se fizessem dia eu não aguentaria
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