estava para escrever hoje. mas a luz do dia era tão intensa que cegava as
minhas palavras – resolvi fingir que não escrevo. prefiro falar – falar com uma
língua que emerge do fundo da goela. mordendo meus lábios para me calar –
malditos fígados – maldita herança. maldita raça que me arranca cada palavra à
força – já disse. hoje não escrevo – carrego um ramo cravado nos olhos e. sobre
mim. um bailarino faz piruetas – ao redor. um polícia ronda indiferente. enquanto
uma prostituta de saia curta mostra-se numa esquina. com o semáforo a brilhar vermelho
para mim e para os peões. para o mundo inteiro – não sei como esse ramo foi
parar aos meus olhos. nem como a barriga da prostituta. prenhe de sevícias
culturais. pode carregar a esperança do prosista – de quem será a criança? talvez
seja por isso que alguns desejos. disfarçados de ramos. buscam prosistas para
os violentar – querem calar quem ousa escrever – desconfiam das barrigas
poedeiras e de todas as artes que colidem com a pequenez da mente – o corpo é
água. evapora-se no esforço de existir. tal como ao se dissipar torna-se
cidadão do mundo. e quando perguntam onde mora. responde: dentro do abecedário –
e o nome? prosista por parte da mãe. poeta por parte do pai – a escrita
transforma tudo. até o mais louco pode tornar-se prosista. encontrando na
cadeira da imaginação o único lugar onde cabe – mesmo que. por vezes. essa
imaginação se perca vagueando pela rua
das putas. onde a alma se encontra com a marginalidade da sua criação solitária
– é outra viagem dentro da mesma viagem – para companhia comprou um cão que se
chama nobel. e uma faneca que saltou de dentro de uma dorna com vinho. e a seus
pés jazem todos os sonhos. os que conseguiu escrever. e aos que nunca abandonaram
a sua imaginação. coloca-lhes uma trela feita de esperança. e parte para uma outra
rua. mais decente. onde as putas não usam saia curta para chamar atenção – talvez
esta minha mente esteja doente. e quem sabe queira apenas ensinar as putas a
ler – o corpo do escritor nunca foi grande. e o tempo o curva ainda mais.
inchando a corcunda com anos e palavras – talvez o cão nobel o faça feliz. talvez.
juntos. encontrem uma forma de recolher os cacos deixados pelos escritores que.
como ele. se partiram ao tentar transformar dor em palavras
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
20/08/2010
sevícias culturais
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Um filho da mãe de um texto fantástico.
ResponderEliminarTorres
obrigado.
ResponderEliminarum dia falamos sobre este texto
abraço