tenho
uma casa que muitas vezes deixa de ser casa. e um corpo que não se reconhece
como corpo – dizem que os lugares são efémeros. mas as dores são intermináveis.
elas atravessam tudo o que tenho. resistindo ao tempo. restam-me as flores.
resistentes. que se recusam a murchar. elas germinam onde os sonhos tentam escapar
silenciosos – hoje. prometo-te fazer sorrir. tenho um truque para iluminar o teu
rosto com um sorriso. um reflexo do que ainda não alcancei – levar-te-ei um
ramo de poemas escritos pela minha mão – um dia. acredito que também cairei no meu
mar. envolto por correntes e aloquetes de ferro. sem espaço para sonhos que não
possam ser esculpidos em pedra granítica - lá. onde a noite se recusa a entrar.
e a areia é pura. apenas há estrelas-do-mar com olhos negros – é um mundo lindo.
cheio de peças de teatro. de declamações. encenações. cheio de gente a escrever
coisas fantásticas – na tribuna dos olhares sinceros. encontrarás um polvo. num
outro dia um peixe espada. ainda suado de uma luta à moda antiga. onde defendeu
a honra de todos os poetas. e que com um golpe de mestre. iluminou para sempre
todos aqueles que gostam de escrever – jamais será esquecido – e até ficamos a
saber que é um tubarão martelo que dá as pancadas de molière – por fim. surge
uma raia elétrica. tão entusiasmada que acaba por acender todos os holofotes da
criatividade – o mar revolto no topo do mundo. contrasta com este mar da
escrita – neste lugar. os aplausos são de um tempo onde a verdade era
importante – é o mundo moldado à mão. não
há correntes nem aloquetes que tragam o dia para o drama. aqui. há uma tábua de
leis invisíveis. que separa os que escrevem. dos que tentam escrever. e ao meio
os livros que nunca saíram da cabeça – as palavras. enfim. chegarão. e todos os
sonhos virão à superfície – tudo terá um título e uma sinopse. e finalmente. o
corpo encontrará descanso no vento das gaivotas. livre. e em paz com o que fez.
e o que ainda virá a fazer
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
06/08/2010
acreditar
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Nas dores vamos plantando esperança, vivendo na ilusão dos sonhos, porque o corpo é o nosso sarcófago em vida, então na morte que seja o fundo do mar.
ResponderEliminar"Tenho uma casa que muitas vezes não é casa. e um corpo que não é corpo. diz-me que os lugares são efémeros. mas as dores são tão longas. passam para lá de tudo que tenho..."
Um texto muito interessante, gostei muito.
anatomia
Obrigado pela leitura e comentário
ResponderEliminar