.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

06/08/2010

acreditar










tenho uma casa que muitas vezes deixa de ser casa. e um corpo que não se reconhece como corpo – dizem que os lugares são efémeros. mas as dores são intermináveis. elas atravessam tudo o que tenho. resistindo ao tempo. restam-me as flores. resistentes. que se recusam a murchar. elas germinam onde os sonhos tentam escapar silenciosos – hoje. prometo-te fazer sorrir. tenho um truque para iluminar o teu rosto com um sorriso. um reflexo do que ainda não alcancei – levar-te-ei um ramo de poemas escritos pela minha mão – um dia. acredito que também cairei no meu mar. envolto por correntes e aloquetes de ferro. sem espaço para sonhos que não possam ser esculpidos em pedra granítica - lá. onde a noite se recusa a entrar. e a areia é pura. apenas há estrelas-do-mar com olhos negros – é um mundo lindo. cheio de peças de teatro. de declamações. encenações. cheio de gente a escrever coisas fantásticas – na tribuna dos olhares sinceros. encontrarás um polvo. num outro dia um peixe espada. ainda suado de uma luta à moda antiga. onde defendeu a honra de todos os poetas. e que com um golpe de mestre. iluminou para sempre todos aqueles que gostam de escrever – jamais será esquecido – e até ficamos a saber que é um tubarão martelo que dá as pancadas de molière – por fim. surge uma raia elétrica. tão entusiasmada que acaba por acender todos os holofotes da criatividade – o mar revolto no topo do mundo. contrasta com este mar da escrita – neste lugar. os aplausos são de um tempo onde a verdade era importante – é o mundo  moldado à mão. não há correntes nem aloquetes que tragam o dia para o drama. aqui. há uma tábua de leis invisíveis. que separa os que escrevem. dos que tentam escrever. e ao meio os livros que nunca saíram da cabeça – as palavras. enfim. chegarão. e todos os sonhos virão à superfície – tudo terá um título e uma sinopse. e finalmente. o corpo encontrará descanso no vento das gaivotas. livre. e em paz com o que fez. e o que ainda virá a fazer 



2 comentários:

  1. Nas dores vamos plantando esperança, vivendo na ilusão dos sonhos, porque o corpo é o nosso sarcófago em vida, então na morte que seja o fundo do mar.

    "Tenho uma casa que muitas vezes não é casa. e um corpo que não é corpo. diz-me que os lugares são efémeros. mas as dores são tão longas. passam para lá de tudo que tenho..."

    Um texto muito interessante, gostei muito.

    anatomia

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