não
consegui dizer-lhe
dizer que era hora de partir. habituara-me a esta ferida. que agora se tronou crónica
– penso um dia. reunir todas as feridas à volta de uma mesa de café – quero perceber.
com os próprios olhos. que além de serem todas iguais. nasceram todas da minha
desilusão – a cabeça pede. mas o corpo não obedece – igualdade? apenas na dor.
mas cada cicatriz tem a sua história – este muro que se ergue entre as minhas mãos
e o papel mata-me. esquartejando a minha esperança – não sei como ainda resisto
a morrer tantas vezes. estou cansado de me asfixiar. e até os dedos parecem
gastos de tanto procurar a vida – este som que ecoa dentro de mim. enche-me os
olhos de ruídos e crava buracos profundos no peito. e as lágrimas de sal
tornaram-se cúmplices de uma agonia que já não sabe respeitar limites – rebento
por dentro. impludo – um dia. arrancarei
o coração e sufocá-lo-ei – talvez a culpa seja deste monstro imenso que não me
deixa sossegar. sempre em movimento – bate. bate. bate. este barulho persiste. sempre
que olho para a mão que escreve. como se
todo o corpo lhe pertencesse – preciso de morrer depressa. não posso deixar que
esse bater me lembre que um dia vai parar – talvez sejam as mãos as primeiras a
matar a dor – e. assim. o coração possa finalmente silenciar-se em sossego –
será a mão que escreve a declarar: é agora
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
10/08/2010
é agora
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A impotência de agir perante situações que se arrastam e não se alteram, só e apenas se tornam mais evidentes, mostram-nos a fragilidade do ser humano, o medo que, por vezes, nem sabemos se é cobardia ou heroísmo...
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarsei apenas. há coisas que sei faz já tanto tempo - um dia irei descobrir toda a verdade do que sei - serei então um homem da ciência. provarei que o A + B = C
ResponderEliminarbeijo
Obrigado