.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

05/07/2010

deixo a morte pensar que morri










escrevo
com um punhal ao lado. sinto que a noite está a ameaçar com um turbilhão de cometas – logo hoje que queria ver o céu - há dias em que reconheço no meio da minha galáxia a estrela que um dia me abraçou com saber – logo hoje que queria ficar cego com a escuridão que impera ao lado da minha estrela. dei-lhe um nome. pai – é uma estrela enorme. tão grande que não cabe dentro dos meus olhos – logo hoje que queria ver o céu. logo hoje que as gaivotas estão recolhidas a amar nos seus ninhos. logo hoje que uma onda me molhou os pés com água que ainda não tinha sido nuvem – chegou a hora de ver a foto a cores. a sorrir. a tocar. cravo o punhal nas memórias e solto as primeiras dores de alegria – ainda viajo em primeira classe. cambaleio. atiro-me para dentro de um passepartout que guardo num canto das minhas mãos – incham. crescem. as unhas rasgam a pele. os olhos caem. rolam pelas sedas que cobrem o desejo. os cabelos perdem força e fazem uma trança de esperança que nunca foi penteada – a carne despede-se dos ossos e as formas deixam de ser forma. finalmente a libertação – aparecem os necrófagos. gostam de levar o resto do meu mundo – hoje. até os sonhos estão em risco. fica o cinto de pele com a fivela a ouro martelado. e os sapatos de couro que um dia comprei para ir a um funeral que nunca acaba – hoje. vou-me sentar na minha cadeira de baloiço. deixo a morte pensar que morri.



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