tenho o espectro de uma árvore
num vaso no meu terraço. secou há muito tempo. era daquelas árvores de
companhia. que nunca seria capaz de me fazer sombra ou albergar um ninho de
pássaro – mas gosto de imaginar a árvore com aquele tronco franzino. engelhado.
seco. sem fruto nem flor. a fazer do meu terraço quase uma floresta – não tenho
uma única memória do seu passado. não me lembro de uma única folha verde. onde
a água era a sua vida. e a mão do homem esperança para uma eternidade que não
existe – hoje. quando a quero recordar. sobrevive apenas em memória um pau
ressequido. seguro por um punhado de terra. também já morta. incapaz de sustentar
qualquer tipo de vida – a seu lado. a companhia de sempre. uma pedra quase
lápide. igual a qualquer outra qualquer. teimava em acreditar que um dia faria
parte de uma história ao pé de árvore gigante – gastou-se pela inutilidade. acabou
por esquecer a sua própria história. atirando-se montanha abaixo. acabando de
vez com a sua inutilidade – precisava de entender como se procedia à fotossíntese.
estava cansada de viver ao lado da morte. precisava sentir a seu lado árvores a
tocar o céu. transformando a desilusão em vida – tinha ouvido dizerem que. numa cidade perto
de si. havia uma feiticeira com uma porção mágica capaz de dar vida às pedras
com ambição – neste pedaço minúsculo de terra. a pedra sabia que era a única
diferença para a árvore. sua única companhia – e assim se fez do meu terraço um
deserto de inutilidades: apenas uma árvore sem vida. uma pedra. e um punhado de
terra. todos falecidos. só a memória do vaso guarda o que lá se passou. tão
pouco – moral da história: para aprender. temos que ter quem nos ensine. para evoluir
precisamos de companhia. e para se ser bom. devemos ter ao nosso lado quem seja
melhor do que nós – esta pequena árvore. agora morta. sempre gostou de
aprender. de saber coisas. muitas coisas. até as inúteis. como saber que o
cometa halley passa pela terra a cada setenta e seis anos – já não estará cá.
ela e eu. talvez a pedra resista. mas continuará a ser pedra
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
17/07/2010
a árvore e a pedra
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