andei por aqui. deambulando. enlouquecendo – mais tarde disfarcei a noite com música. melodias que o ouvido guarda do tempo do gostar. por mim passaram as ruas. com algumas tive conversas pequenas. disse - boa noite. sorriram. disse - bom dia. fugiram. tinham horas para cumprir. eram loucas pelo rigor de quem lá passava para despir a vida – construíram num canto da rua. onde havia uma campa de um sonho que em tempos era esperança. um relógio sem ponteiros. e traziam mulheres pesadas nelas. mulheres que queriam correr mas as peles, flácidas, pesavam-lhes para o chão. também com elas falei. pouco. porque encontrei mais à frente uma estrela do mar -tão bonita! cabelos cor de vento, coração d\'água. não tinha boca, quis dar-lhe a minha. respondeu com um gesto. um gesto desenhado num céu que trazia embrulhado num lenço de mão. dentro. guardava as últimas lágrimas que um dia a sua mãe lhe tinha pedido para levar para um mundo onde fossem capaz de fazer um rio. disse que a amava - madrugada já quase manhã. olha-me como quem olha o mar bravo. o coração inundado. mãos de fora do corpo, à espera. abraço-a. porque sei que as memórias que semeio são lugares onde ficar. para sempre. até de manhã falei-lhe do rio que haveriamos de fazer, no colo desapareceu-me com a primeira luz mais forte. chorei. deixei cair as mãos para dentro de mim. segurei o coração. a dor era tão forte. queria morrer – tem que haver uma forma de voltar a nascer. quero voltar á posição fetal e voltar a ouvir a voz do meu pai. encostava a voz ao meu ouvido e dizia que um dia seria uma sereia. dona de todas as estrelas-do-mar.
* obrigado mar. foi um exercício de grande prazer poder construir este texto a meias com as tuas mãos – também gosto muito de ti
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