este livro que trazia toda a esperança nas primeiras páginas. é afinal um bluff. sabia-o desde o início. há coisas na vida que encontramos ao nascer. talvez uma marca do diabo – já procurei por todo o meu corpo o número da besta. encontrei apenas uma verruga. que uma vez um médico disse. que nenhum mal ao mundo viria dali – não acreditei. cogitei que era ali a porta de toda a maldade. aquela verruga tinha mau aspecto. parecia a porta da bruxa má. aquela que um dia ofereceu a maçã à branca de neve – porque é que eu tenho que saber das coisas se ainda não nasceram aos meus olhos? vejo primaveras que nunca floriram. e campos de descanso ainda sem os mármores cinzas. que emprestam dignidade a vidas que nunca existiram – armei o dedo indicador. agucei-o numa aguça que guardei desde a escola primária. a primeira que me aguçou a vida. atarraxei-o na verruga maldita – procurei lúcifer, tinha esperança de o encontrar sentado numa cadeira. que eu sempre sonhei que havia dentro de mim. de couro vermelho. com dois bilros apontados para uma entrada de luz. que sempre faço questão de manter como saída de emergência de uma qualquer ideia que agonize – mas não. tinha apenas um bilhete a dizer que tinha saído e voltava mais tarde. não dizia quando. apenas que voltava mais tarde – vou estar atento. sei que um dia vou dar com as janelas abertas. e as passadeiras a arejar. agora vem poucas vezes. penso que faz de mim uma segunda casa – de vez em quando. apenas quer saber se eu ainda agonizo. se me contorço com as dores que me entregou ao nascer – nunca me dei bem com este homem que um dia foi aliado de deus – já não lhe quero mal. afinal. pouco me fala. penso que sabe tudo de mim. tudo. até daqueles que andam à minha volta – tirei o dedo da verruga. está igual. feia. disforme. perdeu a forma altiva com o tempo. está moribunda. salvam-se lágrimas de sangue que encerram como lacre a porta para outra existência – vou ver o mar. hoje. há por lá uma estrela de um mar longínquo. veio dentro de uma garrafa de vodka. traz uma esperança nova.
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