…com o frio o corpo procura agasalho – abrimos a lareira. abrimos
exilibris baco. abrimos a alma e por fim convidamos o corpo ao aconchego – tomamos
o primeiro aroma. a medo – embrenhamo-nos com o rótulo. perdemo-nos nas
subtilezas – vertemos o primeiro trago e somos resgatados da insensibilidade – procuramos
uma adjetivação. não encontramos – o momento é de degustação silenciosa – a
felicidade procura-se – e ali ficamos a pedir que a lenha não acabe. sim. a
lenha – o exilibris baco é para sempre
e tudo tão
longe. tão distante destas folhas de papel - não há tristeza nas palavras que
gastamos a falar um ao outro - e depois tudo é dentro do corpo. tudo é feito de
abraços e cada palavra veste a alma com uma cruz feita de primavera - e somos
assim. falamos ao ouvido para enganar a distância - somos feitos de vento.
gaivotas de caneta na mão
resposta a um comentaria
da vânia ao meu texto – sinto.abril
há
noites onde o escuro
é feito unicamente de sons – ouço o coração.
ouço o corpo a mingar. ouço vozes
com saudade e outras que não consigo esquecer – ouço o medo. ouço os pés no caduco e gargalhadas de pânico também – ouço – ouço o terror. ouço as pernas presas ao destino e os pulmões a suplicarem um último cigarro
– ouço as mãos a pedir papel. ouço o
negrume do tinteiro e ouço os dedos a bater palavras sem sentido – ouço –ouço a brisa. ouço o tempo que faz na rua e também ouço o tempo que faz dentro
de mim – ouço aflição. ouço as
montanhas a parir um rato e ouço o sino a bater quartos como se fossem horas de
partir – ouço – ouço os cantos à casa. ouço
o corpo a virar de lado para lado e ouço o que não mereço ouvir – ouço o outono. ouço os sorrisos das corujas e ouço pássaros
que não sabem que existo – ouço – ouço as marés. ouço as gaivotas no mar e também ouço gaivotas que não sabem voar
– ouço saudade. ouço fantasmas que
não conheço e ouço fantasmas que ajudei
a nascer – ouço – ouço a viagem.
ouço um futuro que não pisarei e ouço sapatos que não são meus – ouço o mundo
com estes ouvidos que me nasceram no peito e que se abrem como cravos pregados
a uma cruz que não profetiza remissão – foi condenado a ouvir os meus próprios
ouvidos – aqui estou. com o que me
resta da audição implorando aos deuses que me façam humano e me tapem os ouvidos
com a cera de ícaro – prometo que não voltarei a voar para o sol