.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

31/03/2014

retalhos – número de série 23022014s(r)ego10




paola epifani
 




na verdade. há uma pergunta que sempre faço para mim: vives em paixão?
não sei a resposta. possivelmente nunca a irei saber
vivo sei que estou. ouço vozes. vejo olhos e o vento toca-me o cabelo em palavras miudinhas - é domingo e os braços descansam encostados às memórias - somos tantos em tantos dias. alguns sem nome. rostos que passaram por passar como os dias passam e nunca voltam
vivo em paixão?
não sei
beijo quem posso e em abraços parto em palavras que não sei dizer - sou
sou uma dúvida certa no fascínio de quem se descobre
vivo em paixão?
não sei

se um dia souber prometo escrever-me
 




intransitivo





olivier de sagazan
 




que raio de sábado. se pudesse construir de novo o corpo -  faz favor. é para mudar o óleo e as velas. a frio já não pega bem - ó amigo. já agora lave por dentro e por fora. principalmente por dentro. está um esterco - visto um jeans claros. camisa preta. desabotoada. a ver-se o coração e lá ia eu para mais uma jornada. limpinho de tudo - que raio de sábado. os olhos amarrotados de escuro procuram a palavra salvação - vai com deus meu filho. eu te abençoo - a salvação está na ponta de uma flecha. a cortar o tempo. enquanto diz: goodbye my friend. my love - e a pintura gasta. metalizada. a reluzir ao luar e o cano de escape a fumegar amor num areal onde as ondas morrem com saudade – já não há beijos sôfregos a prometer felicidade eterna - morre sábado. atira-te do meu penhasco. tenho tantos. todos altos. escolhe um e salta. voa como voam as gaivotas – livres




29/03/2014

a minha metrópole




tamara de lempicka
 



a minha cidade não é nova york. nem tóquio. nem londres. a minha cidade é do tamanho do meu país. pequenina e encravada entre montanhas pequeninas – para os metrossexuais das grandes cidades do mundo a minha cidade não passa de uma rua gigante –  raramente se vê no meu burgo um desses homens modernos lotados de autoestima – para este homem. belo. o bem-estar do corpo e da mente são fundamentais para alcançar uma vida saudável e mais longa – cremes. perfumes. depilações. barba bem-feita. cabelo tratado e finalmente a excelência da roupa assente num corpo também ele forçado à elegância – o ginásio é a sua segunda casa e os alteres erguidos em dificuldade exibem o peso da vaidade – para trás ficou definitivamente a ideia dos nossos pais de que homem que é homem cheira a cavalo –  finalmente um homem rivaliza com as mulheres na estética. nos cabelos. na maquiagem. na pele. nos perfumes. na saúde e bem estar – há um novo universo macho  – este novo modelo de homem das cidades modernas parte à conquista do mundo. sem medo e sem vergonha das transformações – leva com ele uma nova mensagem masculina: criatura moderna. cavalheiro. delicado. simpático. exigente. urbano e consciente de que o seu lado feminino é agora uma conquista definitiva do homem contemporâneo – sempre preocupado com a projeção da imagem parte para o galanteio das miúdas seguríssimo da sua sexualidade – se nascesse hoje seria muito mais do que metro. mas como nasci há muito tempo sou apenas uns centímetros – bem medidos como diria a minha mãe quando na mercearia pedia: dois quilos de maçãs bem medidos

 




retalhos – número de série 04022014s(r)ego09




goya



 
toda a noite de um lado para outro e o sono sempre dois passos á frente - já não há quarto escuro que me guarde os olhos - serial killers movies