.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

16/01/2020

fumar fode as moscas






imagem google





sábado. com cheiro a libertinagem. envolvido em aromas açucarados de uma pastelaria. daqueles que fazem engordar só com o olhar. sorvo delicadamente um expresso com toda a tranquilidade quando dou de olhos com uma mosca: verde. ranhosa. barulhenta. olhos enormes. voava em círculos fechados sobre um aglomerado de pasteis de belém – na mesa ao lado um turista americano. creio que cubano. fumava um havano cohiba enrolado à mão e tal como eu seguia atentamente as acrobacias da mosca – o fumo era mais do que muito e rapidamente percebi que a mosca. sendo kamikaze. estava em dificuldades para atacar com acerto a pastelaria exposta – uma cortina sinistra de fumo era a última defesa do sortido da pastelaria e a inalação de monóxido de carbono a sua arma secreta – rapidamente aprendi que a melga voadora se iria foder – e assim foi. o insecto. com raiva. rompeu pelo gás e não se sustentou. descontrolou-se. ziguezagueou. perdeu altitude e atitude e. num ápice. entrou em espiral desgovernada. tomou a direção do granito eouvi um barulho estranho e logo percebi que a turbina tinha explodido – salta uma asa. um mícron de segundo à frente. perde a outra e última asa. acabando por se estatelar dentro de uma chávena de café pingado de uma velhinha que. por usar adoçante. tudo apontava para que sofresse de diabetes – salvou-se a baguete francesa torrada com manteiga sem sal. por um triz tinha-lhe apanhado todo o pequeno almoço – fiquei estarrecido. mas há males que vem por bem – peguei no telefone e liguei para a TAP [transportes aéreos portugueses]. pedi para falar com o comande fernando pinto e. emocionado. relatei-lhe o que tinha acontecido com a mosca – por favor não deixe ninguém fumar dentro dos aviões. o dióxido de carbono fode-lhe os pilotos – assim nasceu os voos verdes e o fim do fumo dentro dos aviões – escusavam de gastar mais dinheiro em simulações. é o fumo que atira os aviões todos para o caralho – agradeceu-me. senti-me satisfeito. fiquei com aquela sensação de que me tinha tornado num herói. devo ter evitado umas quantas mortes por esse mundo fora – mas não satisfeito. e num flash iluminado de saber. liguei para o dono da tabaqueira portuguesa e disse-lhe: têm que por nos maços de tabaco mais um alerta. fumar fode as moscas

joão surreal – 25 de abril de 2010


nota de autor:

joão surreal foi um personagem criada pelo josé luís. enquanto usuário frequente do luso poemas*. para um tipo de textos humorísticos – o escrito era redigido sem grandes cuidados estilísticos e gramaticais. o importante mesmo era a excentricidade humorística da história e a interatividade do personagem com o leitor – o leitor comentava o texto e no mesmo dia o joão respondia com mais humor e com nova argumentação ao texto original. o que originava uma sucessão de respostas e contra respostas – uma história em movimento que não terminava enquanto os comentários não terminassem – foi um momento engraçado que durou pouco tempo porque os comentários tornaram-se em demasia para a disponibilidade do joão – a dada altura as noites já não eram suficientemente longas para responder a todos os comentário. fui obrigado a calar esse puto reguila – foi uma experiência gira que deixou muita saudade – ficou a promessa do joão do seu regresso logo que se reformasse – ainda faltam uns anitos – e porque fui feliz com o joão surreal lembrei-me de partilhar as suas histórias com aqueles que nunca o conheceram – lembrem-se que os textos eram escritos praticamente a uma única mão e com uma única passagem para correções – por isso. não exijam muito do puto.  era bom rapaz mas ainda andava em aprendizagem de vida – tudo aconteceu em 2009/10. anos loucos no luso

* “site de poemas, cartas e pensamentos onde você pode deixar um pouco de si.”