.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

12/05/2023

viver dentro de um paradoxo







"tenho que aproveitar o que resta do pôr-do-sol. esconder as sombras dos fantasmas e correr como se ainda não fosse tarde para que a boca não sinta a minha ausência – mas se o corpo cumprir um destino e as pedras do caminho uma ironia sem tino. então… quero desaparecer. quero chorar prostrado o fim desta minha eternidade e que esta enorme realidade termine como se de uma história de amor se tratasse" - in: paradoxo de teseu 

 

 


01/05/2023

noturno antropomórfico

 






 

um antropomórfico vampírico é um ser que se alimenta de outros. uma nova espécie de sugadores. com uma nova genética. este não se satisfaz apenas com sangue. precisa da alma. e não satisfeito. ainda leva consigo a roupagem com que nos cobrimos – é um bicho malvado. suspicaz e perrengue – um antropomórfico é um copista parolo de máquina fotográfica. dispara chapa em tudo que mexe e. logo logo. reproduz no seu habitat como sua criação – não podes esperar nada deste ser. é um inerte. não pensa. apenas faz associações copistas. e congeminações diabólicas – se aquele humano dança. ele não se limita a dançar. quer mais. quer o estilo. as voltas. os passos. as piruetas. e até empurrar a testa – será sempre um inerte nos próximos trinta e cinco biliões de anos. e jamais se tornará potável. apresentará sempre organismos virulentos – no mundo animal. este distúrbio genético faz com que. na maior parte das vezes. as rãs nasçam sem pernas e moscas sem asas – junto a um antropomórfico vampírico podemos ouvir a zoada das moscas a tentar voar sem asas. e o coaxar das rãs a tentar saltar sem pernas – o que devemos então fazer quando estamos na presença de um antropomórfico? devemos sorrir. já que ele não sabe sorrir – devemos falar bom português. já que ele apenas grunhe – devemos usar o cérebro. já que o seu é exíguo – depois. ignorá-lo. e agir como se não existisse. desprezá-lo. torná-lo invisível. e cercarmo-nos velozmente de humanos com luz própria – os antropomórficos cegam com quem brilha. um pouco como os vampiros com a luz. e quando menosprezados. rapidamente voltam para as suas catacumbas – só não podes é amedrontar-te. esse medo seria perigoso e fatal. faria de ti o seu alimento. que é o mesmo que dizer que te sugaria toda a energia positiva – a verdade tem um valor incomensurável que um antropomórfico nunca abarcará como premissa universal. ele vive para manipular a verdade. a mentira é a sua ferramenta de vida – aqui fica o aviso para quem se cruzar com uma destas bestas. não tente educá-lo. não tente modificá-lo. não lhe mostre um quadro de picasso. uma escultura de miguel ângelo. ou um poema de eugénio de andrade. ele nunca irá compreender a arte – não lhe mostre o céu porque prefere manter os olhos no chão – não lhe mostre a felicidade porque vai preferir a inveja. e o maldizer – para um antropomórfico o sol gira à volta da sua cabeça – a estas criaturas assenta como uma luva a história daquele sujeito egocêntrico. que circula na faixa de rodagem de uma autoestrada em sentido contrário. e estupefacto diz:  -- esta malta é doida. estão todos a circular em contramão – um antropomórfico está sempre certo. o mundo é que está todo errado. está tudo de pernas para o ar. em contramão – um antropomórfico é o inerte mais perigoso do mundo