sinal vermelho. proibido virar à esquerda –
sentido proibido. proibido seguir em frente – sentido obrigatório. proibido virar
à direita – em sinal azul. a mensagem é de auxílio. informação: na rotunda seguir
em frente – gosto dos sinais que aconselham – quadrados. fundo azul e pelo meio
um branco-relevo a dar movimento à informação. e tudo isto sem destoar na sua
circunscrição geométrica – são sinais engraçados. sustentam a organização
rodoviária com ilustrações atraentes: letras maiúsculas gigantes. casinhas.
escolinhas. chávenazinhas. talherinhos. figurinhas simpáticas e determinadas em
movimento – há naquele movimento-parado-decidido
uma convicção segura do caminho. as pernas firmes. uma para a frente. outra
para trás. tudo exprime ação. direção.
determinação. afirmação de uma vontade própria – é para ali que quero ir –
confesso que tenho um fraquinho por estas silhuetas –
[lembram-me a banda desenhada dos
meus tempos de criança]
estes
sinais a que raramente damos atenção. são bons sinais. amigos do homem aberto
ao mundo – orientam sem reprimir. sem obrigar. permitindo o livre arbítrio. o
direito da escolha – escolher caminho é liberdade – no meu tempo não se ensinavam
estas coisas nas escolas. não havia liberdade. nem preferências. os sinais eram
todos de sentido obrigatório – no exame de admissão ao liceu as perguntas eram as
de sempre: quantos castelhanos matou a padeira de aljubarrota? por quem perdeu
o olho camões? como se apresentou egas moniz com sua família ao rei de leão? quem
salvou os portugueses de entrar na segunda guerra mundial? o conhecimento. administrado
com censura. ligado a sinais obrigatórios – sem conhecimento não há liberdade –
a liberdade é tão antiga como o homem – já santo agostinho no século V se
preocupava com as questões da liberdade humana e a origem do mal – um dia o
pecador acordou e disse: o caminho é por aqui – para trás ficou definitivamente
a vida de boémia. vadiagem desinquieta e voluptuosa – possídio. seu amigo
pessoal. descreveu santo agostinho como um homem que trabalhava afincadamente. rejeitando
para sempre o desejo da carne. o luxo e mordomias – não houve nenhum sinal
obrigatório para esta opção de vida – nunca lhe passou pela cabeça que um dia
os homens não seriam guiados pelos seus ideais. mas por sinais de
obrigatoriedade presos a postes de ferro pintados de servidão: o caminho é por
ali. quer queiram ou não – não vou por este caminho porque alguém entende que
devo seguir outro rumo – como deixamos que isto aconteça quando todos sabemos
que o caminho está errado – e o povo sem raiva para novas revoluções – está na
hora de derrubar os sinais de sentido obrigatório – o povo das revoluções
envelheceu e os jovens não conhecem a linguagem de maio de sessenta e oito.
cresceram no conforto. e a resistência é coisa dos livros – estamos todos sem
forças para enfrentar estes sinais de desgraça – temos que reagir. afinal.
estão espalhados em todo o mundo e falam todos a mesma linguagem – um sinal de
proibição é igual aqui ou na coreia do norte – bem. na coreia. atrás do sinal
há uma bala para quem não respeitar os sinais – nestes países os sinais são
sagrados. como na índia o são as vacas – mas nós não estamos na coreia. nem na
índia. nem na austrália. nem na alemanha. estamos em portugal. estamos todos naquele
país que no século XV se atirou ao desconhecido e fez história na história do
mundo – vamos continuar a permitir que o nosso país levante mais sinais de
terror – não sou anarquista. pelo contrário. gosto de regras. gosto de boas
regras quando estas derivam da vontade do homem sábio e justo – mas há homens
sábios e justos a segurar os sinais do meu país? não. não há – então…. voltemos
a fazer história