.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

30/11/2014

a certeza das minhas incertezas


                                                                       alex andreyev

bem que gostaria de ter certezas sobre algumas incertezas – não sou homem de certezas. nunca as tive e creio que nunca as terei – não sou talhado para certezas. ponto final – quando estou perto de uma certeza fico nervoso. fico com pele de galinha. os olhos turvam. os músculos começam a dar de si deixando cair a cabeça para o lado da fuga. as mãos armam-se de suor. e num ápice. como se o cérebro se enchesse de pensamentos inflamáveis. dá-se a rotura. a combustão é inevitável – tudo agora é fogueira em dança de guerra. com um menino a pular à sua volta – tudo arde menos a incerteza – ali fico a olhar para tudo que jamais será certo – nem sei se triste ou perdido. sei que os olhos aflitos procuram o negro – procuro conforto. imagino-me sem incerteza nenhuma – escondo-me atrás de feições que fingem rir enquanto os lábios falam baixinho: um dia isto vai ter que terminar – não basta puxar o cabelo para o lado ou tirar selfies ao pôr-do-sol. enquanto os pássaros esvoaçam certezas num vento tão incerto como eu – sou assim. não podia ser diferente. nasci avesso às certezas – não respondo por não ter a certeza. às vezes é dia e dentro de mim há noite mais escura que breu – pergunto-me: será noite ou dia? não respondo por não ter a certeza – já não falo nas palavras que não escrevo por não ter a certeza de dizerem o que realmente quero dizer – estou sempre a interrogar-me se o que digo é mesmo o que quero dizer – falo demais. escrevo demais. e quem assim é… nunca terá a certeza de nada – se tivesse a certeza de que este texto vos diria como lido mal com as certezas. estou certo de que seria outro escritor – não gosto de certezas porque não gosto que ninguém me diga: vês como tinha razão. tens a mania que sabes tudo – que raio de injustiça. logo eu que nada sei – sei o que vos digo por convicção. por honestidade. por vos querer dar o que de melhor há em mim: a minha verdade – raio de mundo. ninguém me quer compreender – talvez não o mereça – antes que possa dizer o que quer que seja das minhas temporárias raras certezas já tenho como certo uma pedrada no ego – arrependido retiro-me para dentro de todas as incertezas – finalmente feliz – as incertezas nunca são injustas. impróprias. inconvenientes. agarram-te na procura das certezas. e como não as encontras. confortam-te dizendo: amanhã consegues uma certezinha pequenina – as incertezas forram-me o estômago. mantêm-me vivo pela esperança – como se de um soldo de um soldado se tratasse. a subsistência está garantida para mais uns dias – sou feliz assim – será que sou? não sei – mas que posso eu fazer. nada – tenho a certeza absoluta que nada posso fazer contra as minhas incertezas. certas