alex andreyev
bem que gostaria de ter certezas sobre
algumas incertezas – não sou homem de certezas. nunca as tive e creio que nunca
as terei – não sou talhado para certezas. ponto final – quando estou perto de
uma certeza fico nervoso. fico com pele de galinha. os olhos turvam. os
músculos começam a dar de si deixando cair a cabeça para o lado da fuga. as mãos
armam-se de suor. e num ápice. como se o cérebro se enchesse de pensamentos
inflamáveis. dá-se a rotura. a combustão é inevitável – tudo agora é fogueira
em dança de guerra. com um menino a pular à sua volta – tudo arde menos a
incerteza – ali fico a olhar para tudo que jamais será certo – nem sei se
triste ou perdido. sei que os olhos aflitos procuram o negro – procuro conforto.
imagino-me sem incerteza nenhuma – escondo-me atrás de feições que fingem rir
enquanto os lábios falam baixinho: um dia isto vai ter que terminar – não basta
puxar o cabelo para o lado ou tirar selfies ao pôr-do-sol. enquanto os pássaros
esvoaçam certezas num vento tão incerto como eu – sou assim. não podia ser
diferente. nasci avesso às certezas – não respondo por não ter a certeza. às
vezes é dia e dentro de mim há noite mais escura que breu – pergunto-me: será
noite ou dia? não respondo por não ter a certeza – já não falo nas palavras que
não escrevo por não ter a certeza de dizerem o que realmente quero dizer –
estou sempre a interrogar-me se o que digo é mesmo o que quero dizer – falo
demais. escrevo demais. e quem assim é… nunca terá a certeza de nada – se
tivesse a certeza de que este texto vos diria como lido mal com as certezas.
estou certo de que seria outro escritor – não gosto de certezas porque não
gosto que ninguém me diga: vês como tinha razão. tens a mania que sabes tudo –
que raio de injustiça. logo eu que nada sei – sei o que vos digo por convicção.
por honestidade. por vos querer dar o que de melhor há em mim: a minha verdade
– raio de mundo. ninguém me quer compreender – talvez não o mereça – antes que
possa dizer o que quer que seja das minhas temporárias raras certezas já tenho
como certo uma pedrada no ego – arrependido retiro-me para dentro de todas as
incertezas – finalmente feliz – as incertezas nunca são injustas. impróprias. inconvenientes.
agarram-te na procura das certezas. e como não as encontras. confortam-te
dizendo: amanhã consegues uma certezinha pequenina – as incertezas forram-me o
estômago. mantêm-me vivo pela esperança – como se de um soldo de um soldado se
tratasse. a subsistência está garantida para mais uns dias – sou feliz assim –
será que sou? não sei – mas que posso eu fazer. nada – tenho a certeza absoluta
que nada posso fazer contra as minhas incertezas. certas