.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

31/10/2017

tempo


                                                                       imagem google


sacudi a noite

pela primeira janela da manhã

restos de sonhos suspensos

no pretérito

 

as orvalhadas já se

fazem sentir

e as noites

outrora lúdicas e quentes

são agora

fatigosas e frias


30/10/2017

exilibris baco


imagem - Google



…com o frio o corpo procura agasalho – abrimos a lareira. abrimos exilibris baco. abrimos a alma. e por fim. convidamos o corpo ao aconchego – tomamos o primeiro aroma. a medo – embrenhamo-nos com o rótulo. perdemo-nos nas subtilezas – vertemos o primeiro trago e somos resgatados da insensibilidade – procuramos uma adjetivação. não encontramos – o momento é de degustação silenciosa – a felicidade procura-se – e ali ficamos a pedir que a lenha não acabe. sim. a lenha – o exilibris baco é para sempre

17/10/2017

depois do outono


pintura - jackson pollack


a chuva apronta a faina sobre a terra

escala ao sol

em cada raio solar

uma gotícula. uma refrega

 

às nuvens:

o inverno adestra o rigor

 


11/10/2017

correspondência violada - 03



imagem google


e tudo tão longe. tão afastado destas folhas de papel - não há tristeza nas palavras que gastamos a falar um com o outro - e depois. tudo é dentro do corpo. tudo é feito de abraços e cada palavra veste a alma com uma cruz bordada de primavera - e somos assim. falamos ao ouvido para enganar a distância - somos feitos de vento. gaivotas com uma caneta na mão

 

resposta a um comentaria da vânia ao meu texto – sinto.abril 



04/10/2017

ouço no escuro


pintura - ron muek


noites em que o escuro é feito unicamente de sons – ouço o coração. ouço o corpo a definhar. ouço vozes que trazem saudade e outras que não consigo esquecer – ouço o medo. ouço os pés no soalho gasto e gargalhadas de pânico também – ouço ouço o terror. ouço as pernas presas ao destino e os pulmões imploram um último cigarro – ouço as mãos a pedir papel. ouço o negrume do tinteiro e os dedos a bater palavras sem sentido – ouço – ouço a brisa. ouço o tempo que faz na rua e também ouço o tempo que vive dentro de mim – ouço aflição. ouço as montanhas a parir um rato e ouço o sino a bater quartos como se fossem horas de partir – ouço – ouço os cantos à casa. ouço o corpo a virar de lado para lado e ouço o que não mereço ouvir – ouço o outono. ouço os sorrisos das corujas e ouço pássaros que não sabem que existo – ouço – ouço as marés. ouço as gaivotas no mar e também ouço gaivotas que não sabem voar – ouço saudade. ouço fantasmas que não conheço e outros que ajudei a criar – ouço – ouço a viagem. ouço um futuro que não pisarei e ouço sapatos que não são meus – ouço o mundo com estes ouvidos que me nasceram no peito e que se abrem como cravos pregados a uma cruz que não profetiza remissão – fui condenado a ouvir os meus próprios ouvidos – aqui estou. com o que me resta da audição a suplicar aos deuses que me façam humano e me tapem os ouvidos com a cera de ícaro – prometo que não voltarei a voar na direção do sol 


03/10/2017

in II - carne. lembra-te que és mortal


calvin



 a escrita não muda o homem. 
apenas ensina-o a ver-se tal e qual como é 


in: “carne. lembra-te que és mortal II” – 18 de setembro de 2012