não invento metáforas. vejo-as – o embaraço
está na forma como vos entrego esta minha parte abstrata – excêntrico. despejo
no papel tudo que contemplo – vivem como os cigarros: acendem-se. duas puxadas.
beata. e acabam com o fim da matéria combustível – escrito – nos vossos olhos.
o exagero. a crítica ou o sorriso pela maluqueira do que vos oferto – nada muda.
apenas o tamanho dos olhos de quem me vê através da figura de estilo – a
metáfora será sempre um pedaço da minha inabilidade para dizer o que vejo de
uma forma simples – há olhos enormes. do tamanho do feijoeiro mágico. aquele que
depois de alcançar as nuvens permite ao gigante descer à terra para descobrir o
belo – olhos apaixonados. generosos – outros. como azeitonas. nem sabem que
existo. como os pigmeus mbuti. não tenho genes de crescimento. olham-me como se
tivesse nascido ainda ontem – olhos desgostosos. distraídos – só a metáfora é real
– sei que muitas vezes sou um louco aos vossos olhos. mas não me atropelem pelo
exagero do que busco em mim – usem uma metáfora para me descrever. afinal
compensa sempre ter um louco escondido em palavras que não se veem – não vos
ouço ler
–
metáforas: algumas padecimento. outras adorno de amarração: o vosso corpo aos
meus olhos –