"tenho de aproveitar o que resta do pôr-do-sol. esconder as
sombras dos fantasmas e correr como se ainda não fosse tarde para que a boca
não sinta a minha ausência – mas se o corpo cumprir um destino e as pedras do
caminho uma ironia sem tino. então… quero desaparecer. quero chorar prostrado o
fim desta minha eternidade e que esta enorme realidade termine como se de uma
história de amor se tratasse" - in: paradoxo de teseu
um antropomórfico vampírico é um ser que se alimenta de outros.
uma nova espécie de sugadores. com uma nova genética. este não se satisfaz
apenas com sangue. exige também a alma. e não satisfeito. leva ainda a roupagem
com que nos cobrimos – é um bicho malvado. suspicaz e traiçoeiro – um
antropomórfico é um copista parolo de máquina fotográfica. dispara chapa em
tudo o que mexe e. logo logo. reivindica como sua criação o que apenas reproduz
no seu habitat – não podes esperar nada deste ser. é um inerte. não pensa.
apenas faz associações copistas. e delírios diabólicos – se aquele humano
dança. ele não se limita a dançar. quer mais. quer o estilo. as voltas. os
passos. as piruetas. e até empurrar a testa – será sempre um inerte nos
próximos trinta e cinco biliões de anos. e jamais se tornará potável.
apresentará sempre organismos virulentos – no mundo animal. este distúrbio
genético faz com que. na maior parte das vezes. as rãs nasçam sem pernas e
moscas sem asas – junto a um antropomórfico vampírico ouve-se o zumbido das
moscas sem asas e o coaxar das rãs sem pernas – o que devemos então fazer
quando estamos na presença de um antropomórfico? devemos sorrir. já que ele não
sabe sorrir – devemos falar bom português. já que ele apenas grunhe – devemos
usar o cérebro. já que o seu é exíguo – depois. ignorá-lo. e agir como se não
existisse. desprezá-lo. torná-lo invisível. e rodearmo-nos rapidamente de
humanos com luz própria – os antropomórficos cegam com quem brilha. um pouco
como os vampiros com a luz. e quando menosprezados. rapidamente voltam para as
suas catacumbas – só não podes é amedrontar-te. esse medo seria perigoso e
fatal. faria de ti o seu alimento. que é o mesmo que dizer que te sugaria toda
a energia positiva – a verdade tem um valor incomensurável que um
antropomórfico nunca abarcará como premissa universal. ele vive para manipular
a verdade. a mentira é o seu oxigénio – aqui fica o aviso para quem se cruzar
com uma destas bestas. não tente educá-lo. não tente modificá-lo. não lhe
mostre um quadro de picasso. uma escultura de miguel ângelo. ou um poema de
eugénio de andrade. jamais compreenderá a arte – não lhe mostre o céu porque
prefere manter os olhos no chão – não lhe mostre a felicidade porque vai
preferir a inveja. e o maldizer – para um antropomórfico o sol gira à volta da
sua cabeça – a estas criaturas assenta como uma luva a história daquele sujeito
egocêntrico. que circula na faixa de rodagem de uma autoestrada em sentido
contrário. e estupefacto diz: -- esta malta é doida. estão todos a circular em
contramão – um antropomórfico está sempre certo. o mundo é que está todo
errado. está tudo de pernas para o ar. em contramão – um antropomórfico é o
inerte mais perigoso do mundo