30/08/2014
agustina bessa-luís
28/08/2014
27/08/2014
interrogações: entre a reflexão e o desespero
bígamas.
colhem no seu leito a reflexão e o desespero.
25/08/2014
quadras ao despiciendo
18/08/2014
12/08/2014
macho man poético
11/08/2014
28 – aceito. até que o caminho se gaste
o caminho nem parecia ser longo – caminhei
tantas vezes sem saber que caminhar era só falar. e de cada vez que falava.
mais caminho se abria – falava muito. no início sozinho. convencido que ninguém
me queria ouvir – depois. descobri que é muito melhor falar para quem realmente
escuta – dei então a mão e falei – falei. por cada dia de caminho. gastei o
dobro em palavras. e de tanto falar. deixei de olhar para o caminho – descobri
que falar era o segredo para tornar o caminho partilhado. o tempo foi passando
sem que me desse conta do caminho feito – quando se começa a falar. é quase
impossível voltar ao silêncio. as palavras guardadas na privacidade do corpo emergem
aflitas. como se precisassem de respirar. de luz. de companhia. ou simplesmente
de existir – falo. falo porque as mãos nunca me impediram de tapar a boca. os
lábios enchem-se de um vermelho de alegria e esperança. enquanto os olhos alargam
o sorriso ao corpo por inteiro – e assim. fico mais jovem. quase gaiato. adolescente.
namoradeiro – falar é bom. falar é companheirismo. é cumplicidade. é amizade – falo.
falo sem parar. falo com o corpo. com as mãos. com o toque. com os olhos. e no
intervalo das pernas. o tempo a escapar com verdade. com lealdade. com saudade.
com estima – no caminho que fizemos falei. sempre muito. sem parar. falei o que
era só meu. nunca pensei abdicar do meu silêncio íntimo. mas sacrifiquei – nunca
mais te perdi a mão – sou assim. quase nada sem ti. e quase tudo por te ter ao
meu lado – acredito que estas palavras não serão as últimas que te escrevo. bem
que poderiam ser. sempre quis partir a sorrir. mas ainda não chegou o tempo-adeus
– sinto. sinto que ainda tenho ainda tantas coisas para te dizer. coisas que só
tu és capaz de compreender. sei – falo-te. falo-te com estas palavras que
escrevo. escrevo-as por ti. contigo. a vida faz sentido em ti – no timbre da
voz o fervor lê-se em desejo: quero-te agora e para sempre – estamos a falar há
tantos anos – são tantos os relógios a marcar tempo. tantas palavras-momentos.
palavras-data. palavras-mel. algodão. algodão-doce
a derreter no recanto dos teus lábios e eu sempre a falar-te mais. sempre mais.
falar do destino que escolhi – não
merecias tão pouco do destino – para trás ficou tanta coisa nossa. tantas lutas. renúncias. coragem. apreensões. ilusões.
e tu a dizer que tudo irá dar certo e eu sempre a prometer um mundo azul só
para ti – nem sempre temos o mundo da cor que idealizamos – acredito que aquela
nuvem além. um dia. silenciosamente. chegará ao pé do que somos hoje – somos agora
tão diferentes – talvez comece então a chover e as palavras comecem a cair dos
olhos. e nós sem saber o que fazer para as parar – os corpos embranquecem. já não
entendem o desencanto das palavras. teimam em cair quando as árvores continuam
a florir pássaros-em-primavera – não sei. companheira. não sei nada de pássaros.
acredita que não sei. juro-te que não tenho culpa de não saber – gostava de
saber tudo de pássaros e primaveras. gostava muito. por mim e por ti.
principalmente por ti. mas não fui competente para saber – talvez temam esta minha
forma de falar ou tenham visto algo que eu nunca vi – os pássaros não têm
estradas. seguem apenas o que os sonhos lhes ditam – mas. companheira. eu
também estou onde quero estar: quero estar ao pé de ti. – tu és a árvore onde descanso.
onde conto alvoradas. talvez até gaivotas. tu sabes que amo gaivotas. gaivota é
liberdade. mar. paz. esperança. verdade. vento. é o teu nome. e tu és tudo o
que preciso para continuar a teimar a vida – vivo para te falar. vivo para
nunca te largar as mãos – falo-te. falo-te sem parar. não sei dizer amo-te numa
única palavra – gosto dos teus abraços. dos teus beijos. dos teus gestos. do
teu cheiro. dos teus olhos quando encontram os meus. gosto do teu cabelo quando
o enrodilho nos dedos. gosto de me deitar no teu colo e ouvir o mar a chamar o
vento norte enquanto as gaivotas gritam o teu nome a sul – é por lá que o sol
se esconde de todas as injustiças do amor – já não falta muito para que a noite
se abeire com tudo que é arrependimento. pesarosa. negra. sombria. escura. só
não a quero muito negra. não suportaria deixar de te ver. preciso – enquanto
viveres nos meus olhos sou imortal – o tempo passa e não me canso de te falar. como
se fosse a primeira vez – nunca esquecerei a nossa primeira vez. nunca. jamais.
para sempre – tudo agora faz sentido – para trás não olho. não quero. ainda
ouço as palavras que nos trouxeram até aqui: aceito.
sim aceito. até que o caminho se gaste – parece que ainda foi ontem. e já lá
vão vinte e oito anos – guardo-te no coração
10/08/2014
antónio lobo antunes – livro de crónicas o campeão
o campeão
"...o merceeiro ao somar-lhe as compras em voz alta com um resto de lápis anunciava respeitosamente
- Quatro e cinco nove e três doze e vai um, mas com é para Vossa Excelência vão dois, dois e sete nove e nove dezoito e sete vinte e cinco e vão dois, mas como é para Vossa Excelência vão três
e a avó Gui pagava com orgulhosa pompa o peso da sua importância. ... "
07/08/2014
parce sepultis
também se faz luto em vida – mergulhado em chuva e papéis. projeto o futuro – avalio-me – é essencial escrever o que não consigo explicar. a margem de erro é um desvio na compreensão – quem lê procura conhecimento ou prazer – não sou uma coisa nem outra. sou amargura. desgosto. maçada. tristeza. erro. apenas erro. onde a prova dos nove dá sempre um resto qualquer coisa – transcrevo para o papel uma visão antes de a ver. premonição – só assim poderei dar-me ao respeito. antecipando-me – somo-me então a um resultado incerto. numa balança aferida a olhos visionários [e magoados também] – ninguém pode garantir o incerto. sempre ouvi dizer que o futuro a deus pertence – se eu tivesse um deus. a alma não temeria nem gemeria – o contrapeso é a alma perdoada de todo o erro venial – onde há balança. há peso – todos carregamos um fardo indesejado. mortal – o descanso eterno acontece após a missa de sétimo dia – o peso é agora uma memória presa entre duas datas: aqui descansa [finalmente] sicrano. pecador. nasceu a tantos do tanto de mil novecentos e tantos. e morreu a tantos do tanto de dois mil e tantos – que a sua alma descanse em paz
*
parce sepultis – enterrado. perdoado
05/08/2014
vinicius de moraes - soneto de aniversário
04/08/2014
01/08/2014
retalhos – número de série 01082014s(r)ego21
noites de verão são também:
a imersão do sossego embalado nesse movimento quase não-movimento da praia-mar