24/09/2014
ponto vernal
22/09/2014
espírito totémico
nunca
sei de onde me chega esta coragem para vos dizer como sou – loucura – retalho-me
pelo que sinto – se soubesse não era insano. não me retalhava. não me temia – insano
pode ser um qualquer. talvez não – por uma coisa pessoal. quiçá não – pelo
demónio. possivelmente não – ou. unicamente. uma porta emperrada. ou talvez
outra razão – quem sabe. talvez o mais certo. é esta loucura acontecer como luta
contra o destino – uma questão de sobrevivência. algo da alma – mas o cérebro sabe
que a morte é inevitável – é necessário ser louco quanto antes – a morte é
silêncio apenas para quem parte – quando partimos. levamos tudo. tudo? apenas as
palavras que ficam por dizer – gosto de me dar. depois. dizem que sou louco – que
culpa tenho eu? nasci assim – a morte só não cala a escrita
20/09/2014
17/09/2014
14/09/2014
procuro uma palavra que queira falar...
12/09/2014
ressacado
quase
louco
estou muitas vezes assim – o presente amarrado a um dente do siso que sempre senti a abanar – agora. com raiva. enrolei-lhe uma guita em volta. a outra extremidade atada a uma porta que separa o presente do futuro – um dia. lançarei a porta contra o destino
ou
fechá-la-ei para sempre
09/09/2014
05/09/2014
não corre peta de vento
estou semimorto – não tenho papel. nem esferográfica.
nem palavras. nem leitores – estou um caco – desprovido completamente de tudo.
quer dizer. sinto-me um perfeito mentecapto dentro de um corpo que não serve
para coisa nenhuma – nada na minha cabeça além do desejo de possuir um
abecedário – nem uma mísera palavra. um antónimo de oco – mendigo-me – só quero
uma palavra para anunciar a felicidade de quem se escreve – expectativa – não
corre peta de vento – estou fodido
01/09/2014
[também] somos o que fazemos com as palavras
[também] somos o que fazemos com
as palavras
vânia!
o
celular - na minha
terra. telemóvel - é uma modernice do novo homem tecnológico – este homem. ligado
a um futuro que não para de surpreender. faz-me existir com o número 00 351
XXXXXXXXX – esta é a minha conexão ao satélite que liga o continente europeu com
aquele que abriga o brasil. américa. onde reside a minha amiga vânia lopez – escreve
a vânia:
-- um dia. não distante.
prometo-te surpreender
diz
que vai usar o seu celular. marcando o número que me faz existir para o mundo –
acredito. mas. pelo sim e pelo não. espero sentado para não cansar as pernas – quando
concluíres a “call”. cara colega. um sujeito antigo. subjugado agora ao valor
das memórias. vai responder a “você” assim:
- - sim. boa tarde. quem
fala?
e
vossemecê do outro lado. responde em bicos de pés que não param de elevar o
sorriso ao patamar das deusas mitológicas
- - oi meu qu(i)rido. qu(i) legal falar com você. qu(i) surpresa boa. valeu.
estou tão feliz – nem acredito que foi
capaz de ligar. qu(i) legal
dois mundos ligados por fios
invisíveis giram amarrados a um fuso desgovernado pela emoção – tudo agora é
enviesado: o eixo do mundo. as palavras permutadas. os corpos que cruzam
palavras com sentimento. os braços descaídos para bolsos com medo de não
saberem o que dizer. e os olhos. em órbitas desconhecidas. percorrem uma nova
trajetória emocional sob influência de uma nova lei do universo: escrever cria
afetos – ligam as palavras o que o mar teima em separar – para o mundo
literário. chegou uma nova descoberta: um novo enviesamento tecnológico
emocional – tudo sorri dentro de uns fios imaginados que ainda ninguém
conseguiu ver – neste mundo. os olhos são cegos. descansam para outros encantos
que as palavras juram existir de verdade –
as cabeças não param de imaginar o que vem da voz. doidas pela
descoberta. ajardinadas pelo aroma. enfeitadas pela alegria. tombam para a
emoção cruel da distância aprisionada a um fio-algema – seguram o céu ao
imaginário de duas crianças escondidas em corpos feitos à palavra-papel. tantas
vezes incompreendida. tantas vezes ignorada. tantas vezes manipulada. tantas vezes
a teimar a verdade. escrevem-se numa vida censurada em solidão – comoção.
agitação. perturbação. emoção e tudo oblíquo desde o dia em que o criador engendrou
um homem de pó e uma mulher da sua costela. enviesámos para sempre em palavras –
só ele sabe o porquê de nos colocar a rodar de lado para o universo – bem que podíamos
estar verticais. olhos nos olhos. a tocar com as mãos numa perpendicular ao
corpo. a dizer: estou aqui porque neste momento não poderia estar em mais lado
nenhum. estou aqui porque descobrimos muito mais do que palavras escritas.
descobrimos afeição – não é assim. mas a culpa também não é nossa. nós fazemos
a nossa parte. gostamo-nos – quem manda.
pode – palavra. a palavra. vamos eletrizando o espaço com um perfume alfabético
guardado em boiões de uma prosa universal – bem nos queremos. escrevendo ou
falando – ninguém arquitetava um mundo assim. cada vez mais global. cada vez mais informal. nunca
bell imaginaria que a sua descoberta um dia habitaria tão perto das estrelas – se
ele pudesse. afigurar que um simples par de números estivesse ligado a um país.
a uma operadora e a um nome que. por sua vez. com a voz. faz com que a ida e a
vinda de todas as palavras acabem por informar em grandes parangonas:
-- a lua está cada vez mais perto do mar
estamos os dois na lua – longe
vai o tempo daqueles telefones enormes. operados por senhoras de blusa branca.
esguias. sempre a sorrir. cabelo apanhado. lábios pintados de um vermelho a
trazer alquimia à voz: alô! quem fala?... tem uma chamada em linha da senhora vânia
lopez aceita atender? o que era longe fez-se perto.. o que era solidão fez-se
saudade. o que era tempo fez-se presente. falamo-nos com abraços feitos de voz –
mas o mundo não parou num telefone de manivela. e agora as palavras acontecem velozmente
– inesperadamente. chega uma nova vaga
de afetos tecnológicos:
--qu(i) saudade tinha de ouvir você. legal mesmo
verdade. verdade mesmo. digo eu
que já o sentia sem celular – este “legal” que pode ser também bestial. brutal ou
boçal se as palavras não afagassem – ainda agora vi um golfinho a saltar para
dentro de uma cratera lunar e um homem verde a ficar cor-de-rosa. talvez azul.
cor do mar que separa a idealidade da nossa escrita – estou certo que um dia
este mar será o nosso “mare nostrum” – mergulham as palavras que escrevo no
avental de quem me quer bem. procuram conforto. proteção. talvez um comentário
carinhoso escrito em verso livre. ou um like de polegar virado para o céu – são
rosas senhora. são rosas. e no regaço a mágoa de quem não sabe escrever a raiva
dos continentes cercados de água por todos os lados menos pela escrita – são rosas
com espinhos. ou são espinhos com rosas – a lua presa a um mar que teima em
dividir o que as palavras querem unir numa nova estrada metafórica – as mãos pedem
cada vez mais acerto. ritmo e harmonia na escolha das palavras que atapetam
oceanos em cores de amizade – há flores que teimam em nascer nesta encruzilhada
de mãos amarradas aos pés – é afinal esta coisa de escrever que me faz pintar
um quadro para ti: traço acanhado. suave. harmonioso. silencioso. pacato e a decair
para o tom verde-esperança. o mar sem ondas. parado entre marés onde o futuro é
ilegível e se pode ver um golfinho sentado na orla crescente da nossa lua sorrindo
à beleza de um pensamento cristalino – a lua que canta fado no beiral da minha
janela é a mesma que dança samba na avenida do marquês de sapucaí – é a tela
que tenho para te oferecer minha amiga. uma tela feita do meu mundo. do meu
sentir. do meu eu por inteiro onde a água engole as palavras de um mar ainda insuperável
– sobrevive esta pequena luz de palavras em confronto com uma triste nostalgia
de quem espera pelo tocar das vozes – só as sombras sabem o que existe do outro
lado escuro da lua – um dia derrubarei com palavras que ainda não escrevi todas
as sombras do mundo e a água será para sempre engolida pela terra –
escreveremos então um novo poema a duas mãos – [também] somos o que fazemos com
as palavras
o celular. na minha terra. telemóvel. coisa da era
dos homens do futuro e com o número 00 351 XXXXXXXXX - esta é a minha ligação
ao satélite que liga o continente europeu com aquele que suporta o brasil -
deste lado um homem vai responder - sim. quem fala? e do outro lado do celular
a voz. a voz caçadora de emoções. vânia. ui meu qu(i)rido. qu(i) bom falar com
você - e o mundo sempre a girar. e o eixo que suporta os nossos pés a dizer: a
lua está cada vez mais perto do mar. ainda agora vi um golfinho a saltar para
dentro de uma cratera e um homem verde a ficar cor-de-rosa. talvez vermelho.
talvez azul. cor do mar que separa a terra que mergulha nas palavras que
escrevo - são rosas senhora. são rosas. e no regaço a dor de nunca escrever a
ira do coração. são rosas com espinhos. são espinhos com rosas - e a lua à distância
de uma mão e o A.E.I.O.U. a pedir outras letras um V. um n e as flores a nascer
nesta encruzilhada de mãos amarradas aos pés - é afinal esta coisa de escrever
que me faz pintar um quadro para ti. traço pequeno. irrequieto. em tons verdes
e o mar sem ondas. parado entre marés. e o golfinho sentado ao tempo de um
pensamento - é tela. senhora. é uma tela senhora dos mundos pincelados de
brilho. contrastes de luz que só as sombras compreendem