.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

31/12/2016

o ano que merecia o inferno– feliz 2017




imagem google


este raio do 2016 está finalmente em estado terminal – sou contra a eutanásia. caso contrário. há muito tempo que já lhe teria deitado as mãos ao pescoço – para ser verdadeiro. vos digo que este ano não me deixa grandes recordações. foi péssimo – resta-me a saúde de ferro. que não se cansa de resistir – mas o mais irónico. é que tenho a certeza de que o guardarei na memória até ao fim dos meus dias. uma tortura – só guardamos o que nos marca – os que são especiais. por motivos que muitas vezes a razão desconhece – e os que nos feriram. os que tiveram a crueldade de alterar o que julgávamos certo. mas afinal era apenas fantasia – recordo com saudade uma passagem de ano na traseira de uma  toyota hiace. com mais dois amigos e um brinde feito com champanhe do mais rasca. jurámos camaradagem para sempre – a juventude é inocente – recordo-me também de um fim de ano num hotel com a minha família. tinha eu dezasseis anos – disse mal da minha vida e jurei que nunca mais entrava num ano novo com tanta etiqueta ridícula – lembro-me de outro em que passei o ano em viagem de automóvel e comemorei duas vezes o réveillon. em espanha o ano novo chega sempre uma hora mais tarde – troquei votos de felicidade com a minha maria joão. um beijo. e promessas de que o novo ano nos aproximaria ainda mais – felizes com tão pouco – ficou também na memória a primeira passagem de ano sem o meu pai. foi muito difícil – a saudade não me larga nestes dias. um pai nunca se perde verdadeiramente – e assim passaram os anos até chegar a este triste e amaldiçoado 2016 – estou-lhe com uma raiva tamanha que já não suporto sequer a sua lembrança – acreditem. não vou festejar a chegada do novo ano porque sei que pouco ou nada vai mudar – vou festejar com muito regozijo a partida do 2016 – se realmente há um deus nos confins do céu. que não venha com desculpas de que se deve perdoar o que é imperdoável – que se deixe de tretas e atire este ano para o covil de satanás. deixando-o a arder nas labaredas do inferno para sempre – feliz ano novo para todos os meus amigos e familiares – obrigado por fazerem parte da minha vida 



23/12/2016

23 de dezembro de 2016 – parabéns



foto - sampaio rego


parabéns meu amor – e às doze badaladas brindámos ao teu dia de taça na mão – primeiro foi o silêncio. depois estendemos os olhos um ao outro. e por fim. tocamo-nos num beijo branco – e ali ficamos num abraço que não queríamos terminar – estávamos felizes por instantes. o que sobrava do mundo deixou de existir – e o abraço apertava-se cada vez mais – erguemos as taças e acolhemos o destino com um sorriso que também é paz – eu disse que te amava. e tu disseste-me que me amavas ainda mais. e juraste eternidade ao nosso amor. prometendo continuar a enlaçar as mãos até que deus nos queira sorrir – e ali ficámos num silêncio coberto de lágrimas que não nos magoou por ser só nosso – há tanto de nós que não pode ser partilhado – és tão bonita. meu deus. e eu sem saber onde deitar o teu corpo nestes braços cada vez mais entrevados – perdoa-me. meu amor. por tudo em que falhei – eu deveria saber escrever muitas outras palavras. mas não sei – não sei tanta coisa – mas sei que te amo até ao infinito dos meus dias  

 

16/12/2016

deambulações noturnas XIII



foto - sampaio rego



a idealidade 
é tudo o que me resta daquele rapazinho que queria ser grande antes do tempo


15/12/2016

vou. por ali vou


 fábio magalhães


vou – lá vou eu a deambular pelos caminhos da noite. sozinho. como sempre. só assim sou capaz de me encontrar com a realidade nua e crua da escuridão silenciosa – e lá vou eu. passo a passo. para dentro da implacável verdade das memórias – caminhar no passado é quase sempre uma crueldade – vou. em passo certo vou. vou pela noite adentro. sem receio. sem cuidado. sem amparo – na noite. só a verdade emerge. os fantasmas deixam de ser fantasmas. a ilusão desfaz-se com vergonha. e os sonhos. finalmente. adormecem de cansaço – também eles necessitam de sossegar. não é fácil sobreviver preso a fantasias – vou. vou tão louco hoje como ontem – vou. vou tal e qual como sou. vou à procura de outras vidas. perdidas como estrelas no céu – vou. vou saudade. vou dentro de mim. vou de mãos nos bolsos. vou envelhecido. vou num assobio que se dissolve num tempo que já não me pertence – vou. vou com o corpo como posso. vou contra um vento que me varre a face do que me sobra em pesar – vou. vou de rua em rua. e em cada esquina. uma marca de que por ali passei sem nada saber do destino traçado – vou. vou porque preciso de ir – é urgente ir – só a verdade esvazia o medo da morte