este
raio do 2016 está finalmente em estado terminal –
sou contra a eutanásia. caso contrário. há muito tempo que já lhe teria deitado
as mãos ao pescoço – para ser verdadeiro. vos digo que este ano não me deixa
grandes recordações. foi péssimo – resta-me a saúde de ferro. que não se cansa
de resistir – mas o mais irónico. é que tenho a certeza de que o guardarei na
memória até ao fim dos meus dias. uma tortura – só guardamos o que nos marca – os
que são especiais. por motivos que muitas vezes a razão desconhece – e os que
nos feriram. os que tiveram a crueldade de alterar o que julgávamos certo. mas
afinal era apenas fantasia – recordo com saudade uma passagem de ano na
traseira de uma toyota hiace. com mais
dois amigos e um brinde feito com champanhe do mais rasca. jurámos camaradagem
para sempre – a juventude é inocente – recordo-me também de um fim de ano num
hotel com a minha família. tinha eu dezasseis anos – disse mal da minha vida e
jurei que nunca mais entrava num ano novo com tanta etiqueta ridícula – lembro-me
de outro em que passei o ano em viagem de automóvel e comemorei duas vezes o
réveillon. em espanha o ano novo chega sempre uma hora mais tarde – troquei
votos de felicidade com a minha maria joão. um beijo. e promessas de que o novo
ano nos aproximaria ainda mais – felizes com tão pouco – ficou também na
memória a primeira passagem de ano sem o meu pai. foi muito difícil – a saudade
não me larga nestes dias. um pai nunca se perde verdadeiramente – e assim passaram
os anos até chegar a este triste e amaldiçoado 2016 – estou-lhe com uma raiva
tamanha que já não suporto sequer a sua lembrança – acreditem. não vou festejar
a chegada do novo ano porque sei que pouco ou nada vai mudar – vou festejar com
muito regozijo a partida do 2016 – se realmente há um deus nos confins do céu.
que não venha com desculpas de que se deve perdoar o que é imperdoável – que se
deixe de tretas e atire este ano para o covil de satanás. deixando-o a arder
nas labaredas do inferno para sempre – feliz ano novo para todos os meus amigos
e familiares – obrigado por fazerem parte da minha vida
31/12/2016
o ano que merecia o inferno– feliz 2017
23/12/2016
23 de dezembro de 2016 – parabéns
parabéns meu amor – e às doze badaladas brindámos ao teu
dia de taça na mão – primeiro foi o silêncio. depois estendemos os olhos um ao
outro. e por fim. tocamo-nos num beijo branco – e ali ficamos num abraço que
não queríamos terminar – estávamos felizes por instantes. o que sobrava do
mundo deixou de existir – e o abraço apertava-se cada vez mais – erguemos as
taças e acolhemos o destino com um sorriso que também é paz – eu disse que te
amava. e tu disseste-me que me amavas ainda mais. e juraste eternidade ao nosso
amor. prometendo continuar a enlaçar as mãos até que deus nos queira sorrir – e
ali ficámos num silêncio coberto de lágrimas que não nos magoou por ser só
nosso – há tanto de nós que não pode ser partilhado – és tão bonita. meu deus.
e eu sem saber onde deitar o teu corpo nestes braços cada vez mais entrevados –
perdoa-me. meu amor. por tudo em que falhei – eu deveria saber escrever muitas outras
palavras. mas não sei – não sei tanta coisa – mas sei que te amo até ao
infinito dos meus dias
18/12/2016
16/12/2016
deambulações noturnas XIII
15/12/2016
vou. por ali vou
vou – lá vou eu a deambular pelos
caminhos da noite. sozinho. como sempre. só assim sou capaz de me encontrar com
a realidade nua e crua da escuridão silenciosa – e lá vou eu. passo a passo.
para dentro da implacável verdade das memórias – caminhar no passado é quase
sempre uma crueldade – vou. em passo certo vou. vou pela noite adentro. sem receio.
sem cuidado. sem amparo – na noite. só a verdade emerge. os fantasmas deixam de
ser fantasmas. a ilusão desfaz-se com vergonha. e os sonhos. finalmente. adormecem
de cansaço – também eles necessitam de sossegar. não é fácil sobreviver preso a
fantasias – vou. vou tão louco hoje como ontem – vou. vou tal e qual como sou.
vou à procura de outras vidas. perdidas como estrelas no céu – vou. vou
saudade. vou dentro de mim. vou de mãos nos bolsos. vou envelhecido. vou num assobio
que se dissolve num tempo que já não me pertence – vou. vou com o corpo como
posso. vou contra um vento que me varre a face do que me sobra em pesar – vou.
vou de rua em rua. e em cada esquina. uma marca de que por ali passei sem nada
saber do destino traçado – vou. vou porque preciso de ir – é urgente ir – só a
verdade esvazia o medo da morte