.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

26/05/2019

sonho











um estudo científico que concluiu que caminhar ajuda a controlar a corrente sanguínea no cérebro – é capaz de ser verdade. acredito mesmo que assim seja. por isso é que não paro de caminhar dentro de mim. não posso correr o risco de o meu cérebro entrar em colapso e deixar de sonhar – todos os meus sonhos são fabricados no coração. depois. são bombeados em circuito fechado até ao cérebro – com a ajuda dos neurónios descodifico-os e passo-os para a linguagem afetiva. a linguagem dos abraços – ainda dizem que o coração é apenas um músculo. que palermice – o que seria de mim sem a generosidade do coração para fabricar sonhos – sinceramente não sei – todos os sonhos começam por me desequilibrar. para logo de seguida me equilibrarem numa irracionalidade que não sei escrever – sou acometido por uma esperança imortal. uma fé estranha de que tudo irá dar certo. deixo de ter medo. as estrelas reorganizam-se no céu e escrevem o meu nome com milhões e milhões de poeiras incandescentes – e ali fico. envenenado de doçura. a olhar o céu como se todo o espaço sideral fosse meu – deslumbro-me – penduro-me nas letras e baloiço entre o que sonho ser. e o que na verdade sou – queria ter coragem para esquecer o corpo e viver para sempre neste vai e vem afetivo – fecho os olhos ainda com mais força e não falo. não quero acordar. não quero voltar ao mundo das cicatrizes – aqui aqui sei que sou feliz – tal como disse mário quintana. sonhar é acordar-se para dentro – quando acordo para dentro fico abrasivo. inquieto. movediço e apetece-me nunca mais regressar à verdade. apetece-me escorraçar-me do tempo que não anda para trás. e chorar. chorar sem parar – não posso ter vergonha de chorar. e se as lágrimas me caírem nas mãos talvez possa refrescar as fontes. acalmar o corpo ou dar de beber aos sonhos. ou atirá-las ao ar e fazer chuva. ensopar os lençóis. ou a roupa do corpo se estiver no colo da minha mãe – molhámo-nos os dois e depois abraçámo-nos como mãe e filho. eu digo-lhe que a amo e ela diz-me que serei para sempre o seu menino – não quero deixar de sonhar. não quero que o abraço termine. não quero que o mundo acabe dentro de mim – preciso de sonhar para viver – sento-me. encosto-me a um pulmão. puxo os joelhos para o tronco. aperto-os até que a vontade de chorar desapareça e entrego-me ao silêncio – é no silêncio que reparo os danos de viver com os olhos abertos – abro os braços e voo até à montanha mais alta do mundo. e atiro-me ao vento como se atiram as gaivotas. e voo. voo como voam as pessoas felizes. sem medo e numa liberdade de arrepiar. por lugares que só existem quando os sonhos nascem no coração – quem tem coragem de não gostar deste mundo redondo. azul. com mares. com alma. sol e sal?! – eu adoro sonhar neste mundo – com o pôr-do-sol sento-me na lua e vejo as luzes da minha cidade acender uma a uma. e percebo que dentro de cada casa há corações que fabricam sonhos como o meu – nesta cidade que me deu o nome. a minha casa é apenas um pontinho do tamanho de um alfinete – eu também sou do tamanho dos alfinetes. sempre fui do tamanho dos alfinetes – nasci assim – só os sonhos é que são enormes. às vezes são tão gigantes que até acabam por me magoar – não importa. não sonhar é o prelúdio para a morte – quando não estou a sonhar nunca esqueço o meu mundo. o mundo redondo. azul. com mares. sol e sal. e mesmo em exaustão emocional sei que será sempre o mundo onde nasci. e também sei que só neste mundo é possível fechar os olhos e sonhar – é o meu passado que me faz acreditar nos sonhos – sempre que a noite chega abraço-me para que o coração se lembre que vivo de sonhos – gosto de sonhar e gosto do meu coração – sonho para que o futuro me encontre – “é o sonho que comanda a minha vida”






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