descansa em paz – devagarmente o dia encolhe-se. mirra. enquanto
o corpo. passo a passo. foge silenciosamente por mãos que não
querem saber o que carregam – os passos marcam o que resta de luz. enquanto
as cordas estrugem aceitação e recolhem em si toda a esperança de um
milagre – por fim… um silêncio absoluto numa calmaria de angústia – o
mundo engoliu o barulho – as lágrimas encolhem-se atrás da dor numa resignação
que nunca nos foi ensinada. e os ais refugiam-se dentro de um luto negro
negro. num até sempre que não morre – só o aroma das flores anuncia a
ressurreição: o céu é o seu destino – o fecho da sepultura proclama em
definitivo o fim da carne e o começo da saudade – gostava deste bom homem:
bom pai. bom marido e meu sogro – ninguém merece desmemoriar
do que é seu. mas foi assim que partiu. sem reconhecer aqueles
que nunca o irão esquecer – que raiva tenho deste mal. acredito que é
coisa do diabo ou de outro planeta – também o meu pai partiu sozinho. esquecido
de todos. até de mim que fiquei sem saber o que fazer ao que tinha ainda
por lhe dizer – tenho raiva. e nem o tempo. nem essa curva que os
fez desaparecer. me alivia esta raiva de sentir o mundo deserto. é
como se o tempo inventasse um novo fim a cada instante do relógio – aqui estou.
entretido nos rosários da vida. a fugir de um dezembro maldito:
agora sei que existes para me mostrares que o escape da carne se faz mesmo
quando o milagre do natal se reboliça dentro de mim – porque não me ensinaram
que amamos sempre mais hoje do que ontem – o tempo-saudade magoa.
envelhece-nos em tristeza – o meu sogro era um homem de família. bom e
honrado – que mais se pode querer de um homem? nada. por mais coisas que
queiram inventar para a grandeza do homem. à sua despedida terrena só a
honra o leva à glória. à eternidade na memória dos que por aqui ficam a
lamentar não haver céu na terra – vou ter saudades dele. da sua forma
tranquila de caminhar. da voz doce. amena. como se
quisesse passar despercebido dos humanos barulhentos – vou ter saudades de
dizer: bom dia sr. joão. trago-lhe a sua maria joão e os
seus netos – paz à sua alma
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