de manhã cedo
salto de mim
e
vou para o que não sou
absorvo
café com leite 
uma
bucha de pão
e
sinto o coração alçapão 
mas
vou
vou
com pressa 
em
expresso
levo
um sorriso
de
vintém 
e
vou para o que não sou
mas
vou 
assim
como sou
às
vezes camaleão
às
vezes papelão
às
vezes irritação
e
de curva em curva
entre
campeões e matolões 
vou
como se não fosse
para
lado nenhum
e
penso:
vou
para lá
ou
fujo para acolá
não
interessa
às
vezes morro por lá
e
também por acolá
mas
vou
levo
a bucha de pão
e
um melão
que
é mais desilusão
do
que ebulição 
mas
vou 
sem
saber ao que vou
às
vezes sem tino
às
vezes sem destino
às
vezes num equilíbrio
que
é apenas pesar 
de
ser o que sou
mas
vou
vou
com temor
triste
e desiludido
[até
perdido]
por
não saber porque vou
se
não gosto do que sou
quando
vou
mas
se o destino me atrasar 
volto
atrás 
por
caminho envesgado 
não
vá satanás saber 
que
sou aquele que vai
com
melão
que
é muito mais mutilação
do
que paixão
mas
vou
vou
porque todos vão
mesmo
que ninguém saiba 
para
onde vai
esta
procissão 
de
tristonhos mortais 
eu
vou 
mesmo
com melão
mesmo
com mutilação
mesmo
com irritação
eu
vou
vou
com a minha careta
que
não é vedeta
mas
que importa
é
a que tenho
e
é com ela 
que
vou chegar 
de
onde nunca parti
 
 
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