.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

16/05/2025

a inveja é um visa vencido

 

 


um invejoso nasce amargurado. cresce frustrado. e envelhece depressivo. para mais fácil compreensão. como li há uns dias numa publicação do facebook. diria que é um transocial: nasceu com alma de rico num corpo de pobre – haverá mal pior do que estar encarcerado num corpo sem um cartão visa? para o invejoso esse castigo é a mãe de todos os castigos – resta-lhe a mentira. a desculpa repetida. o azar constante. o casamento trágico. e mais uns quantos dissabores. com amigos. vizinhos e colegas de trabalho – o mundo é uma treta. sobeja apenas energia para não fazer nada. para encontrar um duende que não resolva a vontade de prosperar. mas a fuga para o futuro num sofá – felizes daqueles que nascem pobres num corpo igualmente pobre. como a maior parte dos humanos – este pobre. frequentemente ignorado e incompreendido. tem apenas um cartão de débito. e o hábito de ver o saldo todos os dias. não vá um vírus roubar-lhe a dignidade para o mês – com a barba por fazer. pelos crescidos e ensarilhados. tal como os dias. pele desbotada. pálpebras caídas. cabelo esgadelhado e a pedir chuva. resiste com a sua cruz – sorriso apagado em meia dúzia de dentes soltos ao único céu que conhece. falta de colgate? pouco importa. já não encontra necessidade de sorrir. a vida é apenas temor – calças esfarrapadas. mas na moda. sapatos cambados a fazer pandã com uma camisola tingida num amarelo desmaiado. como a sua pele. e um número estampado à frente: 176-671. parecida com aquelas que usavam os irmãos metralha nos antigos almanaques da disney – afirmaria com toda a amplitude da palavra: um homem amarrotado. por dentro e por fora – desanimado com a existência miserável que o cartão de plástico lhe oferece. quase sempre sem saldo mesmo trabalhando sol a sol. por onde passa o alarme ecoa sempre. como uma sirene a anunciar perigo. e quem se cruza com o pobre amarrotado. rapidamente deita a mão aos haveres. não vá o desgraçado sofrer do mal da mãozinha leve – bem podia ser um foragido da cadeia de vale de judeus. e nada ficaria a dever a uma noite de halloween. tudo nele é terror e medo – mas não. é apenas um dos muitos homens que trabalham duro. para poderem dar apenas mais um pouco aos filhos do que os seus pais foram capazes de lhe dar – mais um escravo da industrialização. da economia global. e agora da IA – o seu maior defeito é não ser invejoso. se fosse. possivelmente. já teria um visa dourado na mão – nada como ser invejoso. esta espécie sobrevive à custa do desenrasque.  da aldrabice. e da chico-espertice – um invejoso vive em permanente desassossego. numa raiva constante. e ao fim do dia descansa no inferno ao lado de satanás – se o amigo ou vizinho faz aviõezinhos de papel. é porque quer ser astronauta; se joga o euromilhões. é porque quer comprar o iate do abramovich e estacioná-lo na rotunda mais próxima; se assopra preservativos. é porque quer ser balonista; se abre os braços. é porque quer ser gaivota – um invejoso é uma alma extraviada. doente. vê nos outros o que realmente medra dentro de si – na vida de um invejoso só há ambição desmedida. doentia e perigosa – a cobiça medíocre de um invejoso nasce da sua vaidade – temam os invejosos. mas não se deixem desumanizar. é preciso viver. acreditar na solução da raça humana. e nos entretantos. proteger os bons do mau-olhado. um dente de alho pendurado ao pescoço e rezas ao zé pelintra – porque enquanto houver quem resista. haverá sempre um futuro possível

 


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