tenho ainda tanta coisa para escrever –
tudo que tenho corre para as mãos como os rios correm para o mar – tudo é confusão.
e os olhos dentro da latrina gritam para não mais voltar a ver – tudo é
desordem. caos – e as mãos não sabem dar ordens – desapegado do corpo – arranco
um braço e os jornais anunciam o fim da greve geral – arranco uma perna e a gasolina
sobe dez cêntimos a partir da meia-noite – arranco a outra perna e o vizinho
atira-se da varanda por não ter um empregador – estou de rastos. arrastado ao
nível dos vermes – arranco um pulmão. e os médicos anunciam uma vacina contra o
cancro do pulmão – arranco a língua. e ninguém quer saber do que escrevo –
arranco os miolos. e a casa amarela não aceita doentes sem ADSE – arranco o
outro braço e fico para sempre em silêncio – não escrevo. não ando. não penso.
respiro mal. e já nada corre para lado nenhum – ouço. ouço o tempo. ouço as
pernas. ouço as mãos. ouço o cérebro. ouço o que me ficou dentro – há coisas
que não conseguimos arrancar – ouço o meu silêncio como nunca fui capaz de
ouvir – alguém caridoso por perto me traz um cigarro aceso? preciso de escrever
//
significado
de lucidez:
mente
limpa, coerente, quando a pessoa tem discernimento, atento, alerta, acordado,
enfim sóbrio.
exemplo
do uso da palavra lucidez:
o
casal apesar de ter saído tarde da festa estava lúcido, no entanto colidiram
com o carro por inabilitação do outro motorista.
//
o
outro motorista sou eu
Arranquem-me tudo, até a ilusão de saber quem sou, a ilusão de saber quem fui, arrancaram-me a alma, e deixaram-me vivendo nesse mundo coisa, nesse mundo chão, arrancaram-me as asas...
ResponderEliminarsempre intensos...
obrigado márcia - um excelente fim-de-semana
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