.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

21/06/2016

ocupação selvagem




foto - sampaio rego



não escrevo para outros e nada dos outros vos trago para ler – sou assim sem saber porquê – escrevo com a mão de um outro que me ocupa selvaticamente um corpo extorquido com usufruto – uma caução de morada até à morte – e é este miserável que me entrega com rudez tal e qual como sou. sem nenhum padrão de gratidão. ignorando o meu apelo sofrido ao silêncio – para a frente da fala não há mais recuo – a palavra é uma escritura onde o meu corpo exterior é avalista no mundo dos sons – não é fácil. acreditem – mas um dia serei pó e poderei definitivamente ocupar o lugar à direita do meu pai numa eternidade piedosa – o ocupador. selvagem. elementar hospedeiro de um corpo amaldiçoado por um deus de pedra. vai perdurando a ocupação numa simbiose forçada – ficará para sempre acorrentado ao peso das palavras. umas vezes em pecado capital. outras em clemência sofrida – quanto a mim. quando ando por aí. perdido numa modéstia de nojo. nunca nada vos direi. o silêncio não me é imposto. é uma forma de vida – a felicidade chegará com a mutilação



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