.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

15/05/2017

vânia – afinal. deus mora nos nossos quintais



vânia lopez


com coragem aqui estou em palavras para enobrecer a tua amizade – chegou o momento de te dizer o quanto foram e são importantes as tuas palavras-estímulo ao longo desta minha aventura prosista – ser prosista nunca é fácil –– retribuo então esse teu carinho com o talento que me sobra nestas mãos que te querem bem. sei que não será muito. serão apenas umas quantas palavras. algumas velhas. gastas. puídas. outras sem nexo que. de tão desajustadas do corpo. caem dos bolsos –  dobrei uma em forma de triângulo. um triângulo perfeito. com os ângulos todos iguais. e coloquei-a no bolso da frente do casaco a imitar um lenço de seda – um homem quer-se arranjado quando está prestes a oferecer o seu bem mais precioso: a palavra – gosto de palavras. sempre gostei. servem para coisas inacreditáveis. e quando bem usadas. podem fazer de nós pessoas fantásticas. às vezes até imortais – quando escrevemos ficamos guardados no tempo para sempre – com as palavras posso fazer quase tudo. escrever o nome de quem gosto. matar as saudades. escrever cartas de amizade. escrever poemas de amor ou de raiva. e outras que por serem tão complexas só os poetas as entendem. posso também dizer que o mundo é mais bonito contigo. e dizer com toda a impiedade que uma palavra pode comportar: gosto de ti – gosto de ti assim. gosto de ti como te descubro nos meus olhos. como quando me chegas em silêncio. ou como te escuto no interior da tua poesia. e também gosto de ti na forma como me olhas naquela foto em que te colocas de lado para o mundo – ainda bem que existes – sabes que gosto de escrever. e quando começo a escrever não paro. fico com a sensação de que nunca digo o suficiente. insegurança creio eu. ou então falta de jeito. sei que não tenho muito. às vezes nem percebo porque escrevo. fico sempre com tanto medo de não compreender verdadeiramente o valor de cada palavra. quando erramos ao escrever. é para sempre. as palavras não se trocam. nem as podemos pedir de volta. depois de escritas pertencem para sempre à vida – como também são para a vida todas aquelas mensagens que trocamos na calada da noite. tu envias um olá. eu respondo com um bonequinho a sorrir. tu envias uma palavra. eu devolvo a tua com mais duas minhas. e assim. começa o encantamento poético. e as palavras a escreverem-se como se tivessem uma força desconhecida. como se os deuses do olimpo nos tomassem conta das mãos e nos dissessem: escrevam. sejam feliz – e assim ficamos a dar brilho às estrelas enquanto a noite. calmamente.  se despe para dar lugar à realidade – gosto de saber que estás por aí nesse teu quintal – escrevo-te porque não sei falar. porque não confio nas palavras que me saem da boca. saem-me sempre muito depressa. impercebíveis. e tão confusas que se acabam por perder no mundo-solidão – pouco sei desse mundo-solidão. gosto mais do nosso. o das palavras escritas que partilhamos com gosto. numa arte que nos abraça e que poucos entendem – quem escreve cresce todos os dias dentro de si – nós fizemos crescer uma amizade – mas para que serve isto tudo que estou a dizer se não for capaz de escrever uma palavra nova para te oferecer – não serve para nada – escreverei então alguma coisa que te traga em braços por esse distante mundo oceânico. onde tu. desse lado. ficaste presa. e eu. deste lado. em castigo – arrumo as montanhas para um lado e sento-te ao pé de um campo de magnólias. estamos na primavera. corre por nós um perfume dourado-sol. suave. suave-inocência – seguro as águas dos rios. detenho as nuvens. silencio todos os pássaros no ar. e arrumo o vento morno dentro de um poema que compus para pessoas especiais – há agora um silêncio celestial à espera de escutar a tua poesia – arranjas o cabelo. as poetisas querem-se bonitas. ajeitas o corpo que eu conheço. sacodes as mãos do tempo pérfido. e por último. dás uma olhadinha no espelho da vida. é lá que nasce toda a poesia do mundo. a tua também – e ali fico a ouvir-te até que o tempo se esgote e os poemas se transformem em ficção – voltas então para o teu quintal. e eu fico a colher magnólias em campos de palavras – afinal. “deus mora nos nossos quintais”

 

para a vânia lopez – um comentário faz muitas vezes a diferençaobrigado por cada dia em que me ajudaste a escrever e a enfrentar os meus medos

 

2 comentários:

  1. vivo sempre com poucas palavras a cada vez que sua amizade emociona... a caneta fica muda e o azul da tinta respinga aqui dentro.
    o que dizer? sou feliz só pelo fato de tu existir dentro de mim. obrigada pelo tempo que cobre tudo de ternura.

    Beijo que dure uma vida e outra outra outra

    Vania Lopez

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  2. Vânia lopez, sua linda!...
    Saudades, viu?...

    Milton Filho... (srimilton)

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