quem nunca conheceu a dor jamais entenderá a morte –
conciliação precisasse
quem nunca conheceu a dor jamais entenderá a morte –
conciliação precisasse
1º parte
apetece-me desabafar
– hoje vou falar sobre a maldita internet
– bem sei que não vai ser fácil. não se fala da internet sem perder uns quantos
amigos cibernautas e mesmo que não os perca na sua totalidade. sei que alguns vão
aziumar e murmurar entre dentes: se fosse escrever para o caralho – mas tem que
ser. apetece-me. e quando me apetece alguma coisa sou como as grávidas: ou faço.
ou corro o risco de perder para sempre esta raiva de escrever – não vai ser
fácil… mas em boa verdade. nos dias que correm. não há nada fácil. anda tudo no
ar. e tudo o que anda no ar ou é avião ou like do facebook
[dito isto]
na
minha juventude. sabia perfeitamente distinguir quando um amigo estava num
daqueles dias em que o pai lhe tinha dado um aquecimento às orelhas. o rosto
trazia instalado um sistema de alerta facial que nos colocava de sobreaviso:
-- estou com pouca paciência. toca a abanar as
orelhas para longe
mas
se pelo contrário conseguisse um suplemento na féria semanal o semblante abria-se
num sorriso rasgado de orelha a orelha e a partilha do aprazimento contagiava a
amizade do grupo mais rápido do que a gripe espanhola:
-- bora pessoal. hoje fuma tudo à borla
sabíamos
tudo uns dos outros. éramos amigos
desde que o sol nascia até ao seu sumiço – o nosso rosto era uma impressão
digital: única. intransferível e decifrável apenas pelos códigos da amizade – eram
tempos do arco da velha
[trinta anos mais tarde]
desde
que apareceu a internet os amigos passaram a comunicar pelas redes sociais numa
linguagem de símbolos e sons universais – passámos a estar diariamente presentes
na vida daqueles que estimamos e também na dos que pouco ou nada nos dizem –
basta ter um computador e um registo no facebook e os amigos começam a nascer
de todos os cantos. mais de mil no primeiro dia e ao fim do mês dez mil e ainda
não completamos seis meses e já temos amigos até do japão e por cada amigo cem
likes. enganchados nos likes milhares de dedos apontados para um céu que nem
sabíamos existir – não é fácil envelhecer com as novas tecnologias. todos os
dias uma nova ferramenta e eu sem escola profissional para me ensinar como se
faz um ctrl-alt-delete – o mundo de pernas para o ar e eu também – não tenho
tempo para tanto amigo. nem que vivesse mil anos chegaria. e o botão enter do
meu teclado gasto. sem tinta. prestes a furar de tanto bater que sim – parece
que estou triste. mas não estou. estou ansioso. as teclas chamam pelos dedos. os
likes sorriem. e os corações cada vez mais vermelhos. os lábios carnudos. os ursinhos.
os gatinhos. um autêntico jardim zoológico nas teclas. onde cada animal parece quer
dizer todo o tipo de merdas que nunca aprendi – estou velho. só sei mesmo deixar
um polegar virado para o céu – espero que todo mundo saiba que estou confiante
e bem de saúde
[hoje é um dia especial]
sinto-me
global. sinto que me entreguei por inteiro ao mundo das redes sociais – só não
quero é que me convidem para jogar á bola. não é por nada. mas já não sou dado
a correrias e também não quero que ninguém saiba das minhas mazelas nos joelhos –
estou todo fodido – ansioso que o facebook me comunique o número de likes
recebidos no último mês – tenho fé que vou bater um novo máximo. estou no
encalço do CR7 – eu e o melhor do mundo
a viver debaixo do mesmo teto global –
os humanos nunca param de surpreender. como muita gente não sabia exprimir os
seus sentimentos. logo surgiram ferramentas virtuais para traduzir emoções num
espaço sem fronteiras – tudo à distância de um clique – carrega num smile
amarelinho com a boca para cima já todo o mundo sabe que se trata de uma dose
controlada de felicidade. dez smiles
seguidos é uma overdose de júbilo. podendo. se não for vigiada. trazer sérios problemas de saúde –
mas para além destas preocupações e benefícios há uma outra vertente que
valorizo imenso. um smile não
envergonha a língua portuguesa. não exige
escrita. basta o tal clique
inofensivo. e até camões agradece – o único problema destas carinhas redondas a
sorrir é perceber a sua veracidade. nunca saberemos se é impostura ou se vem
mesmo do coração. e como recebemos resmas delas por dia. rapidamente percebemos
que o melhor é aceitar tudo como vem empacotado. sem questionar. sem argumentar
e no mesmo instante. para não acumular e perder o sentido da coisa. devolver a
cortesia em modo de correio azul. um dedo virado para o céu acompanhado com uma
dessas carinhas amarelas rechonchudinhas e a amizade ficará presa a cimento
para sempre – quem inventou esta comunicação é um génio. se tivesse nascido na
minha terra. garanto-vos. já teria uma rotunda com o seu nome – não importa o grau
de amizade que liga o emissor com o recetor. a carinha encaixa-se sempre na
perfeição. não importa se é gordo ou magro. letrado ou analfabeto. cavalheiro
ou marginal. viva em braga ou no chile e fale castelhano ou checheno. tudo
funciona sobre rodas – estou convencido de que um dia será com estas figurinhas
que faremos o primeiro contacto com os extraterrestres – comunicar tornou-se um
ato espontâneo. e rende centenas de amigos por dia – como é fácil iludir o nosso
universo habitável – para percebermos se realmente alguém está bem na vida das
redes sociais faz-se uma contagem rápida dos amigos e dos likes conquistados:
-- foda-se. parece impossível: aquele nabo do
antunes já tem mais oito amigos do que eu
2º parte
ganhar ou perder amigos tornou-se um drama com
consequências muito mais sérias do que no meu tempo – nesse tempo. um gajo
embrulhava-se numa troca de socos e pontapés. e no dia seguinte. como nunca
havia gente suficiente para jogar futebol. o remédio era mesmo fazer as pazes –
um aperto de mão e a amizade continuava no mesmo ponto em que tinha sido
interrompida – a oferta de amigos no mercado das redes sociais hoje é maior do
que a procura – os amigos estão ao preço da uva mijona – és um grande amigo se deixares
muitos likes. mas um amigo de trampa se te esqueceres de carregar nos likes – o
nosso mundo de amigos é agora assim:
esgadanham-se por meia dúzia de likes:
-- ó filho se me deixares ser teu amigo prometo que
te faço uns likes tão loucos que até vês a estrela polar
quem
tem poucos amigos nas redes sociais é logo marginalizado – se não me dás um
like. também não levas nenhum meu – se tem poucos amigos é porque o gajo não
deve ser grande pistola. deve ter a mania que é chico esperto. menino da mamã –
vai longe. vai – a solução é ignorar e passar ao lado das postagens e das fotos
– comentar um gajo com poucos amigos? nem pensar. é mau para a sua reputação
-- a estes merdas elitistas que não dão likes nem
lhes dou confiança. bloqueio-os logo – quero que se fodam todos
o
problema é que todos querem ser amigos de todos só para caberem neste mundo
global da internet – estes amigos não pesam às costas. não tens que os
compreender. nem ouvir. nem chamar a atenção num momento menos feliz.
simplesmente existem – é fácil a sua manutenção e mesmo quando se zangam por
algum motivo não andam ao soco. nem têm que apertar a mão como cavalheiros –
agora bloqueia-se o tratante e logo de seguida posta-se uma frase pesarosa no
perfil a dar conta da morte prematura de um amigo que verdadeiramente nunca o
tinha sido:
-- tão bem lhe fiz e o agradecimento é este. não
merecia. não tenho sorte nenhuma com os amigos
e
o milagre da multiplicação já não é pão nem vinho. são amigos aos milhares. a
emergir como ratos. de cantos que nem imaginava existir. e likes. abraços. migo
e migas aos beijinhos e jinhos a perder de vista:
-- força migo;
-- deus é grande;
-- não mereces. mas vais ultrapassar;
-- aconteceu-me na semana passada. é uma tristeza
mas já passou;
-- não ligues migo. esse gajo deve ser um paneleiro
de merda;
-- se fosse comigo. fodia-lhe as trombas;
-- vais “ber” que tudo se vai resolver. tem fé;
-- se precisares de uma amiga sabes que para ti
estou sempre aqui. jinhos;
-- cabrão. eu sei o que merecia esse filho da puta
– há gajos que não se enxergam - abraço
depois
destas manifestações de carinho incha mais que o peixe balão – bem sei que a
maioria destes amigos nem os conheço pessoalmente. e outra grande parte apenas
os conheço de um único aperto de mão. ou de uma palavra reles de circunstância.
ou então porque são amigos de amigos que também não conheço – o amigo de
verdade. aquele que é mesmo amigo amigo. nem me fala pelas redes sociais quando
percebe que há um problema. liga-me. e quando o telefone toca. o nome dele
ilumina o mostrador – atendo. e logo chega em letra grande um like que não tem
o dedo para cima. tem alegria suficiente para alimentar uma conversa por tempo
impossível de contar – e assim é. retoma-se a amizade exatamente no ponto em que
a interrompemos – não importa o tempo que passou. conhecemos todas as inflexões
de voz e recuamos ao passado na única máquina que nos faz viajar no tempo: a amizade – os amigos de verdade são
sempre únicos. cada um deles é um mundo único
-- que saudades tenho desses catraios
neste
novo movimento tecnológico. o mais importante já nem é o número de amigos que
se possa somar. para esta malta o que começa a contar é a rapidez com que se coloca
o like – um verdadeiro amigo tem que estar sempre atento. sempre de sentinela e.
mal surja a oportunidade. o seu like tem de ser o primeiro – acabamos de postar
um texto de quatro páginas e nos primeiros dez segundos já temos cinquenta
likes. aos trinta segundos chegaram já mais de mil e antes do minuto atinjo os nove
mil novecentos e noventa e cinco – incrível – passada a primeira hora. lá chegam
os últimos cinco amigos. de cabeça baixa e cheios de desculpas esfarrapadas. quatro
lamentam não terem tempo para ler a correr. o outro alegou:´
-- a culpa é da EDP cortou-me a eletricidade.
fiquei sem net por causa de uma fatura em atraso
entender
este novo mundo digital exige uma ginástica mental impossível. melhor. creio
até que nos dias de hoje já não há pessoas infelizes – a sociedade é agora um
bando de gente socialmente feliz.
-- toda a gente aparece nas redes sociais a rir.
com dentes mais brancos que o branco mais branco. o pepsodent faz milagres inacreditáveis
– os dentistas estão fodidos – o pessoal escova os dentes cem vezes ao dia só
para sair bem no facebook
todas
as manhãs mandam beijos de bom dia aos montes. o que me leva a pensar que
talvez despertem sem sequer se falarem. creio que é pelo respeito ao espaço de
cada um. no meu tempo. os quartos eram bem menores e não havia como não invadir
o espaço da nossa companheira:
-- vê se te despachas a sair da casa de banho que
quero ir aí
ou
então quando o amor andava no ar ela dizia:
-- deixa tudo arrumado que eu não sou tua criada
3º parte
os casais começavam logo pela manhã a comunicar. a dividir
tarefas e a trocar juras de amor eternas. ela prometia despachar-se mais
depressa nas pinturas e ele jurava pela sua saúde que nunca mais deixaria as
cuecas no chão – mas agora tudo mudou. para melhor. todo o mundo se ama numa
loucura que chega até a ser constrangedora para os casais mais antigos – agora
sei que no passado o amor era muito fatela. senão vejamos – de tempos a tempos.
curtos. vão para a internet. e como se fosse promessa. botam palavras de amor aos conjugues capazes
de derreter até o coração mais empedernido – ninguém resiste a tanto romance
digital
-- estou convencido de que. se o shakespeare fosse
vivo. teria que triplicar a dose de veneno para o romeu bater a soleta. com
este amor não é fácil falecer
o
que mais me encanta é que nos dias de hoje não há casais incultos. todo o mundo
exibe uma bagagem cultural que me comove até às lágrimas. oferecem frases de
autores tão desconhecidos que até os próprios autores citados ficam na dúvida
se alguma vez escreveram aquilo – o amor embrulhado em fitas de arte dura muito
mais tempo – fico sempre muito orgulhoso destes seres humanos tão especiais.
ainda bem que os amigos ficam realmente a saber que adoram literatura e que aproveitam
todos os bocadinhos livres do dia para lerem e promoverem autores desconhecidos
– são os novos mecenas da cultura digital– depois vem a parte pior deste amor
que arde e até se consegue ver. um amigo daqueles do coração. comunicativo e
muito sensível às coisas do amor e que é capaz de ir a tribunal jurar a pés
juntos que aquele amor é a oitava maravilha do mundo das redes sociais deixa um
comentário em lágrimas:
-- parabéns. continuem a regar esse jardim de amor.
vocês são perfeitos. nunca vi um casal que se amasse tanto
responde
logo a dona daquele amor que não cabe numa resma de papel A4
-- és lindo. tens um coração lindo. jinhos lindo
logo
a seguir. o facebook vira uma slot machine. os gostos e corações caem em
catadupa. suficientes para encher o cesto da capuchinho vermelho – a avó dela ficaria
com um ego de super-homem e o lobo mau teria que reaprender o seu papel – a
avozinha comia o lobo de faca e garfo com tanta manifestação carinhosa – mas o
que mais me surpreende nestes movimentos sentimentais são aqueles que substituem
o gosto por aqueles bonequinhos de boca aberta. espantados. creio eu – e aqui é
que a coisa se complica. fico sem saber se esse bonequinho de boca aberta
significa admiração genuína ou puro gozo. no meu computador. as interpretações
podem ser várias:
1º - não fazia ideia de que gostavas tanto do teu
marido. estou espantada;
2º - nunca pensei que ainda se amassem tanto.
depois do que já o vi fazer-te. estou espantada;
3º - olha que tu tens uma lata do caraças. és mesmo
uma vendida. andas sempre a dizer mal dele e agora vens para aqui meter nojo –
se fosses lavar a loiça… sua cabra. estou espantado;
4º - nunca vos vi comunicar um com o outro. mas
aqui na net são o casal mais maravilhoso do facebook. – ó bonitona. deixa que
te diga. és um exemplo para todos. só se pode ter inveja de um amor tão genuíno
- são TOP. estou espantado;
5º - tenho tantas saudades vossas. a última vez que
vos vi estavam a almoçar no zé das bifanas – estavam os dois lindos. são um
casal fantástico – só não fui à vossa mesa porque deveriam estar preocupados
com alguma coisa pois estiveram sempre ao telemóvel e saíram a correr –
beijinhos e continuem assim. estou
espantada;
6º - vocês estão juntos ainda? são uns heróis –
confesso que nunca me passou pela cabeça que o vosso casamento aguentasse tanto
– chegaram a casar pela igreja ou foi só pelo civil? – parabéns. estou espantada;
7º - tens o sorriso mais lindo da net. nunca tinha
reparado. estou espantada;
8º - és uma guerreira para aguentar esse gajo. ele
não te merece. estou espantada;
9º - puta que pariu esse amor. até mete nojo de tão
lindo que é. estou espantada;
10º - adoro-vos. gostava que a minha maria me escrevesse coisas assim. infelizmente é uma puta e só sabe foder-me a cabeça – maldita hora em que levei aquela cabra ao altar. se não fosse os filhos já a tinha atirado da janela – beijinho para vocês. são um exemplo – felicidades e dá um abraço ao sortudo. estou espantado
e
assim continuaríamos com mais uns quantos exemplos. mas infelizmente também eu
não tenho tempo para escrever mais nada – a minha maria está aos berros e já
sei que ou me apresento rapidamente em passo ligeirinho ou acontece-me como da
última vez. deu-me no focinho e de seguida ligou para o número verde de
violência doméstica a queixar-se de défice de atenção – bem sei que tudo acaba bem.
mal apanha um computador esquece tudo. e enche-me de beijos e likes e não se
farta de dizer aos amigos que sou o homem da sua vida – com a idade aprendi a
ser tolerante e nunca me esqueço do que diziam os meus avós: uma bofetada pode
salvar o casamento – o meu já vai a caminho das bodas de ouro e nunca me
queixei de uma bofetada mal dada – sou um sortudo da velha guarda
o poeta sobrevive nas vísceras de um cérebro eternamente insatisfeito – carrega a dor da procura por palavras que nunca saberá escrever – por mais que escreva. por mais que pense. por mais que deixe o corpo arder no inferno. por mais que rasgue a carne. jamais conseguirá transferir para as mãos o sofrimento de não as saber escrever – não há caminho feliz para quem escreve – escrever é mutilação
às
vezes perdes um sapato só porque não tiveste o bom senso de apertar os cordões –
era tão fácil – ainda tinhas o par de sapatos e mantinhas a dignidade no andar –
assim. não é que andes mal. mas ficas coxo – mas que se lixe. ninguém dará
conta a não ser que perguntes pelo sapato – mas... sapato perdido não volta ao
pé. nem com bom senso
acordei.
como sempre. sem qualquer tipo de azia – não tenho absolutamente nada contra o
futebol clube do porto. nem contra outro clube qualquer. nada tenho contra o
norte e nada tenho contra o desporto futebol – o que não gosto mesmo é de gente
má. sem educação. sem preocupação pelo próximo. arruaceiros. imbecis e
principalmente gente que me divide o país em regiões por causa de uma bola –
sou nascido e criado no norte. mas adoro cada pedacinho de terra do meu país – adoro
lisboa. adoro a capital do meu país. adoro a luz que irradia da cidade. e adoro
o sport lisboa e benfica – há coisas que passam de geração em geração. o meu
pai era benfiquista e os meus filhos também o são – mas atenção. que isto fique
bem claro. nunca o meu clube. em qualquer circunstância. estará acima da lei. da ética desportiva e da
honra – também não gosto de doentes do futebol que se aproveitam das redes
sociais para se tornarem visíveis. tontos. provocadores. arruaceiros.
levantam-se e deitam-se a pensar futebol e nos intervalos. em modo de descanso.
enviam likes clubísticos ou postam frases e vídeos motivacionais sobre clubes
de futebol – diria que o perfil do pessoal da bola é facilmente arquitetado:
segunda a sábado. falam sempre do jogo de domingo. domingo. continuam a falar
do jogo – e pronto. estamos conversados sobre a malta do desporto rei – claro
que há exceções. felizmente – confesso que não gosto muito da generalidade desta
malta do futebol. toda ela. dirigentes. treinadores. jogadores e outros
parasitas que gravitam neste mundo de milhões . o que gosto mesmo é de ver a
bola a rolar; tudo o resto é desespero –
bem sei que nada posso fazer. fanáticos há em todos os clubes e em todos os
desportos. mas isso não me impede de sonhar que. um dia. essa malta perceberá
que está descontextualizada com a nova geração emergente das escolas e
universidades – há cada vez menos gente analfabeta e as lavagens ao cérebro estão
cada vez mais difíceis. a malta nova já não tolera comportamentos rascas e carregados
de ódio. prefere. tal como o meu amigo hercule poirot. massa cinzenta. cérebro – felizmente o ADN luso é mais virado
para a treta do que para o confronto físico que. aliado a alguma sorte. vai
adiando a tragédia. um dia esta sorte acaba e acontecerá como a tragédia dos
fogos do ano passado e aqui-d ’el-rei que a culpa é do sistema – mas que se
lixe a malta fanática da bola. o importante mesmo é que o campeonato acabou. já
há campeão – mesmo sem festejar qualquer título confesso-vos que estou muito
feliz. sempre que um campeonato termina. fico eufórico. acaba a barulheira. os
“paineleiros” vão para férias. os jornais dedicam-se às mentiras das
contratações e os doentes da bola tiram “vacances” e dedicam-se ao charme nas
redes sociais. likes e beijos são aos milhões – afinal esta gente até tem bom
coração – mas regressemos à bola. o
porto foi melhor do que o meu benfica e quando assim é só me resta endereçar felicitações
aos meus amigos portistas. sei que estão contentes e tem toda a razão para
estarem. foram quatro anos longos de jejum – eu estou também feliz por eles e
quando assim é também posso dizer que sou um bocadinho de nada campeão – não se
pode ganhar sempre – mas atenção. sei que sou boa pessoa. mas não sou nem santo.
nem estúpido. e muito menos hipócrita. e não dou o que tenho de melhor em mim a
quem não merece – como disse atrás. as felicitações são para os meus amigos
portistas. aqueles que não querem ganhar o campeonato a todo o custo. aqueles
que estão do lado bom e abominam a batota. aqueles que jamais trocariam uma
derrota por uma vitória com desonra e por último. aqueles que não gostam de
magoar o próximo e celebram as vitórias com um abraço de conforto com os
adversários – não posso festejar o título do porto com quem usou o seu facebook
para continuar a transmitir ódio. raiva. mentira. para quem não se lembrou de
mim e me ofendeu com postagens insultuosas. caluniosas. pessoais [enquanto
benfiquista]. divisionistas e revanchistas e principalmente para aqueles que insistem
em dividir o meu país em norte e sul – esses terão o meu desprezo absoluto. o
meu silêncio e principalmente a minha falta de respeito – não respeito essa
gente. mas nunca lhes faltarei ao respeito que merecem – para esses lunáticos
que sustentam a sua vida com postagens diárias de grupos fanáticos. em
empregados de comunicação sem escrúpulos. em gangues desportivos que perseguem
e amedrontam agentes do futebol e adversários. em programas “desportivos” apinhados
com gente sem dignidade. gente vendida. medíocre. rascos e sustentados por
estações televisivas sem qualquer tipo de pungimento para com a sociedade fica
bem expresso nas minhas palavras o risco que separa este mundo entre o lado bom
e o lado mau – para estes covardes. faço questão de lhes dizer que os consagro
com aquilo que merecem: o desprezo – sei que nada mais entenderiam para além do
desprezo – mas bem lá no fundo sou um homem com sorte. esta malta estranha não
faz parte do meu rol de amigos de verdade – tenho a certeza de que não se
sentiriam bem no nosso meio [portistas. sportinguistas. benfiquistas. entre
outros] – brevemente tudo voltará ao
princípio e uma certeza tenho: os fanáticos de todos os clubes continuarão
fanáticos – infelizmente são doentes e ainda não há vacina para esta doença – passem
bem